Crítica | Fragmentado
Do diretor e roteirista M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido, Sinais, Corpo Fechado), chega aos cinemas brasileiros Fragmentado, thriller psicológico protagonizado por James McAvoy (X-Men: Apocalipse). O filme mostra o sequestro de três adolescentes por um homem, Kevin (McAvoy), que sofre com um transtorno de personalidade. Dessa forma, várias personalidades se manifestam no corpo de Kevin, e de maneira conflituosa, o que pode determinar os rumos deste sequestro. Parece bizarro? Sim, é bizarro, porém funciona enquanto drama narrativo.
As grandes qualidades de Fragmentado estão na habilidade do diretor e roteirista em manter o suspense ao longo da narrativa e tornar a trama interessante com o passar do tempo. A vantagem de ter um protagonista com diversas personalidades proporciona uma imersão ao redor de Kevin, que sempre apresenta uma novidade ao público, no caso, alguma nova personalidade. Para explicar esse transtorno complexo, o roteiro traz uma psiquiatra, Drª Fletcher (Betty Buckley), que explica de forma expositiva, o que nesse caso não soa forçado, do que se trata a doença de Kevin, ao mesmo tempo em que o atende em sessões de terapia.
James McAvoy se esforça para dar traços diferentes a cada personalidade, conseguindo realizar a difícil tarefa de maneira instável. Há momentos em que as transformações de personalidade impressionam, em outras soam forçadas, entretanto, pela dificuldade deste papel, McAvoy apresenta uma atuação mais do que satisfatória, levando-se em conta que o roteiro, ao menos em se tratando de diálogos, não ajuda muito em alguns momentos com frases que soam extremamente ridículas, principalmente no ato final do filme, a parte mais problemática quando falamos de texto. O roteiro se sobressai em momentos sem diálogos, explorando seu cenário claustrofóbico e os gestos de cada personalidade do personagem de McAvoy.
É preciso levar em conta a personagem Casey Cooke, interpretada por Anya Taylor-Joy. Casey é quem recebe mais destaque entre as três meninas sequestradas, ganhando flashbacks ao longo do filme que a aprofundam e tornando-a, em alguns momentos, mais interessante que o próprio protagonista. É uma pena que em alguns momentos ela não convence em sua atuação, ainda assim superando muito as outras duas atrizes, que parecem sair de Todo Mundo em Pânico.
Apesar de problemas na atuação e roteiro instável, Fragmentado levanta uma boa discussão sobre o poder que a mente humana exerce sobre o corpo, o que talvez seja um elemento mal explorado ou explorado tarde demais durante o longa. O filme também lida com as diferenças entre como uma pessoa sem traumas e como alguém que sofreu com situações terríveis encaram a vida. A edição favorece a imersão nessa ideia, o que salva o filme e maquia seus principais defeitos, mantendo o espectador entretido do início ao fim.
O diretor M. Night Shyamalan entrega um roteiro ambicioso, o que talvez seja a causa dos tropeços de Fragmentado. A megalomaníaca ideia de trazer um personagem com vinte e três personalidades diferentes nem se concretiza, pois vemos no máximo sete, o que já é muito além do comum. James McAvoy pode ficar tranquilo, pois fez um bom trabalho na medida do possível. Um outro ponto positivo é a direção de arte, que conseguiu criar um espaço perfeito para o que o roteiro propõe, além de detalhes para cada personalidade de Kevin, mostrando total compreensão da ideia proposta no roteiro de Shyamalan.
Enfim, Fragmentado deve atrair os fãs do bom thriller psicológico. Sendo um filme bem produzido, percebemos um trabalho levado a sério, mesmo que com tropeços no roteiro. Mantendo a atenção do público do começo ao fim, já supera os problemas de muitos filmes do gênero, que se perdem na própria história, o que felizmente não acontece aqui. O mau desenvolvimento de alguns aspectos da história comprometem a experiência de assisti-lo, que poderia ser ainda melhor, contando com boas atuações em alguns momentos. Porém, M. Night Shyamalan pode ter deixado passar esses detalhes na tentativa de apresentar um protagonista tão complexo da melhor forma possível. Fica para o próximo filme, já que ao que tudo indica teremos continuação.