CinemaCríticasFilmes

Crítica | A Cabana

Será que estamos mesmos sozinhos? Será que existe uma força maior que zela por nós e está presente em todos os momentos da nossa vida, sejam eles bons ou maus? Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo? Estas são algumas das perguntas que, muitos de nós, fazemos sobre a nossa existência na Terra e a premissa de A Cabana, longa baseado no livro homônimo de William P. Young e estrelado por Sam Worthington e Octavia Spencer, que esteve no Brasil para promover o filme.

No longa, durante um fim de semana acampados no lago, um incidente momentâneo tira a atenção de Mack (Sam Worthington) de sua filha caçula Missy (Amélie Eve) e ela desaparece misteriosamente. Através das investigações policiais, evidências revelam que ela foi brutalmente assassinada em uma cabana nas redondezas do lago. Quatro anos mais tarde, Mack, ainda em luto, recebe um bilhete misterioso, aparentemente assinado por Deus, o convidando a visitar a cabana onde o crime aconteceu. Após relutar com a decisão, ele decide ir, e o que encontra lá muda a sua vida.

A Cabana é um filme correto, que facilmente poderia cair no piegas, porém a forma certa que o diretor Stuart Hazeldine conduz a trama consegue capturar o espectador e envolvê-lo em sua história. É crível entender a personalidade de Mack, um homem que nasceu e cresceu dentro da igreja, mas que devido aos abusos que sofreu de seu pai, ainda está na igreja mas não tem um relacionamento verdadeiro com Deus. E que se afasta ainda mais Dele após a trágica perda da filha menor.

Sam Worthington defende o personagem com garra e é possível acreditar em toda a dor e revolta em seu olhar. O ator ganha muito quando está ao lado de Octavia Spencer, que interpreta Papai (forma como Deus é chamado pela família de Mack) e enche a tela com seu carisma e simpatia. A química entre os dois é ótima e Octavia não coloca em sua atuação o peso de estar interpretando um ser divinal, mas sim o de uma mãe que esteve afastada do filho por um longo tempo e agora quer reconquistar seu afeto e confiança.

Além de conviver com Papai, Mack conhece as outras representações da Trindade, Jesus Cristo (Avraham Aviv Alush) e o Espírito Santo, ou Sarayu (Sumire Matsubara), o que se mostrou uma opção corajosa e bela representar a Trindade utilizando a diversidade de etnias. Outra grata surpresa é a pequena, mas arrebatadora, participação de Alice Braga, que nos apresenta a cena mais forte e emotiva de toda a projeção. Ponto para os atores e direção, que poderiam cair na breguice extrema, mas conseguiram conduzir com a elegância e o impacto necessários.

Outros pontos a serem elogiados no longa são a belíssima fotografia de Declan Quinn, o design de produção e os efeitos visuais, que são de encher os olhos. Por outro lado, a trilha sonora de Aaron Zigman é mal encaixada em alguns momentos do filme e parece a todo custo querer forçar o espectador a se emocionar, o que não se faz necessário, já que a história contada consegue falar até com aqueles que são mais céticos.

A verdade é que todos nós passamos por momentos que nos fazem refletir sobre a vida, e A Cabana consegue ser um belo filme que retrata bem a espiritualidade, a fé, esperança de mudança, a capacidade de perdoar e uma excelente reflexão que nem sempre as coisas nas nossas vidas serão só boas ou da forma que sonhamos, mas que mesmo nas adversidades precisamos prosseguir em nossa caminhada e saber que não estamos sozinhos nela.