Fora de Cena | Rain Man
Algumas mudanças que ocorrem em nossas vidas são desejadas. Outras, embora necessárias, nem tanto. O importante é ter consciência de que a vida é mutável e que a qualquer momento a maré pode virar. Este filme é sobre um terceiro tipo de mudança. Ela vem como aquela onda que se forma quando não estamos prestando atenção, nos acerta em cheio e nos vira de cabeça para baixo.
Engoliu areia? Podemos continuar. Bom, vamos começar com Charlie Babbitt. Profissão: vendedor. Característica: cético. Retorna à sua cidade natal quando recebe a notícia da morte de seu pai. Ele teria conseguido não ficar tão abalado com o fato se o testamento fosse diferente. Toda a herança de seu pai foi deixada para uma certa instituição. Nesse lugar vive um irmão do qual ele jamais ouvira falar. A cereja do bolo é a seguinte: o irmão é autista. Não que isso signifique muita coisa para Charlie, claro. Pelo menos não no início.
O irmão se chama Raymond – interpretado de forma magistral por Dustin Hoffman. A relação entre os dois inicialmente é bem estranha. Vamos dizer que Raymond não é exatamente o tipo sociável e que Charlie não possui aquele elemento chamado “boa vontade”. Na verdade, ele demonstra grande resistência em aceitar a situação e esse “novo” irmão. O enredo então aborda essa jornada, compartilhada por esses dois estranhos ligados pelo sangue. Cada um em seu universo particular. Mais do que uma jornada física, trata-se também de uma busca pela compreensão e por uma forma de conquistar algo que muitos têm e não valorizam: o amor entre irmãos.
A forma como Dustin Hoffman interpretou seu personagem lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator em 1989. Muitos especialistas em autismo, porém, o criticaram por criar uma figura extremamente caricata. Apesar disso, este filme foi um excelente veículo de divulgação do autismo no final da década de 1980, quando as pessoas ainda pouco sabiam sobre ele, e muito menos era discutido. O que é importante ser dito é que Raymond é apenas uma parte do que significa ser autista. Nem todos dentro desse espectro possuem essas características tão acentuadas, mas todos precisam de cuidado.
Quer uma dica? Pense neste filme como um combate à negligência e um ensinamento para olhar com carinho aqueles que nos cercam. Essas mudanças que nos desconcertam muitas vezes nada mais são do que alguém pedindo nossa ajuda.