American Gods | 1×01 – The Bone Orchard
Quando o series premiere de American Gods tem início com um prólogo ultra-violento e de tirar o fôlego, já dá para sentirmos que o aspecto autoral e estranho da nova aposta do canal Starz conseguirá justificar todo o hype alcançado nos últimos meses. Os mais familiarizados com a obra literária que deu origem à série estarão se arrepiando de emoção e orgulho, e certamente os marinheiros de primeira viagem se encontrarão curiosos o suficiente para não piscar durante os excepcionais sessenta minutos iniciais do show. É a mágica que qualquer obra adaptada do mestre Neil Gaiman produz instantaneamente e que nas mãos de nomes como Bryan Fuller (Pushing Daisies e Hannibal) e Michael Green (Logan) garantirá todo o apuro visual exigido por um investimento do gênero.
A premissa da série é simples, mas não menos provocativa: na América contemporânea os deuses antigos, divindades estrangeiras que chegaram ao país graças às crenças particulares de cada novo imigrante a pisar por lá, e os novos, deidades representadas pelos vícios humanos mais atuais, como a mídia e a tecnologia, travam uma batalha silenciosa por um prêmio em comum, a fé dos humanos. No entanto não se enganem, os imortais de American Gods não são tão diferentes da gente. Eles amam, riem, choram, transam e vivem aos olhos da humanidade como transeuntes comuns, que no fim de tudo só querem ser validados pela busca mais antropomórfica de todas, o desejo por adoração.
Na trama da série, é pelos olhos do ex-condenado Shadow Moon (Ricky Whittle) que o mundo dos deuses que estão ao nosso redor será apresentado. Num show onde a curiosidade dos espectadores é despertada justo por essa representação diferenciada de figuras divinas, um protagonista simpático que funciona exatamente como nós se faz necessário. Felizmente os showrunners conseguem caracterizar Shadow com o exato apelo blasé que Gaiman já fazia na obra original. O primeiro encontro do personagem com Mr. Wednesday (Ian McShane, num casting não menos que perfeito) e mais para frente com o leprechaun bebum Mad Sweeney (Pablo Schreiber), são dois dos momentos onde o Shadow de Ricky Whittle já mostra a que veio em parcerias e diálogos que devem ditar o tom de todo o show.
Ainda existe ao redor de tudo isso o embasbacante desenho de produção que sempre é um dos pontos mais aguardados quando anunciam uma série de Bryan Fuller. Só nesse piloto a gente pode destacar o interlúdio que apresenta a deusa Bilquis (Yetide Badaki) num twist erótico de dar arrepios e o desfecho do episódio com o Garoto Técnico (Bruce Langley) e seus minions sem rosto. Até quem é veterano no fullerverse (o universo onde todas as séries de Fuller se passam) deve soltar algumas exclamações aqui, e eu não acho nenhum exagero, pois as sequências são genuinamente desconcertantes.
American Gods pode parecer estranha demais e até pretensiosa para os mais desavisados, mas tenho a sensação que estamos diante de mais um achado na nova Era de Ouro da TV premium americana. Um contro sobre valores culturais como a fé e costumes dos mais antigos que são capazes de edificar toda a persona de diferentes nações. Resumindo, uma obra essencial para o tempo no qual vivemos.
P.S. 1: Eu amo aberturas, e essa de American Gods é um desbunde sonoro e visual!! Para nunca pular durante a exibição.
P.S. 2: Não vimos muito da Emily Browning e sua Laura Moon, o que não significa que eu não esteja menos curioso. Quem leu o livro sabe o motivo.