Girlboss | A primeira temporada
Girlboss é a nova comédia (ou seria uma dramédia?) original da Netflix inspirada na autobiografia da empresária Sophia Amoruso, dona da loja virtual Nasty Gal, um dos maiores impérios do e-commerce fashion do mundo e que narra, de forma livre, a jornada de crescimento e amadurecimento de sua protagonista, Sophia Marlowe (Britt Robertson), desde quando não conseguia manter um emprego por muito tempo até o momento em que decide vender uma peça de roupa customizada no e-Bay e tem a ideia que mudaria a sua vida.
Por incrível que pareça, o grande problema desta primeira temporada de Girlboss está justamente em sua protagonista. Sophia é o reflexo de tudo de pior que a Geração Millenium – aquela que já nasceu conectada à internet – representa. Ela é mimada, irritante, egocêntrica, egoísta, impulsiva, teimosa e jamais aceita estar errada ou ser criticada por suas decisões. Porém, é possível ver através dela as pressões que os jovens sofrem para estar dentro dos padrões impostos pela sociedade e serem muito bem-sucedidos em suas vidas, não sendo tolerado nenhum tipo de fracasso ou atitude que saia desses parâmetros.
Britt Robertson faz um bom trabalho e consegue imprimir em sua personagem, mesmo com todos esses defeitos, uma determinação invejável para vencer a pressão de estar sendo subestimada o tempo todo por ser mulher e jovem, além de sofrer com sua ansiedade. Por mais que Sophia seja, na maior parte do tempo, detestável, é possível criar uma simpatia por ela e querer que as coisas deem certo. Além disso, Britt segura bem as cenas onde a personagem cai na real e que exigem mais carga emocional sem parecer forçado.
Um dos principais destaques de Girlboss são seus personagens coadjuvantes, em especial Annie (Ellie Reed), a melhor amiga de Sophia e que ajuda a dar profundidade e entender o que se passa na mente confusa da protagonista. Somados a ela, temos Lionel (RuPaul Charles, impagável como o vizinho ranzinza e de bom coração), Nathan e sua mãe Teresa (Cole Escola e Nicole Sullivan) e a senhora do banco de praça (Louise Fletcher, que tem apenas duas cenas na temporada, mas que são maravilhosas).
Não posso deixar de destacar a brilhante participação de Melanie Lynskey como Gail, uma vendedora de produtos vintage que não aprova a forma com que Sophia conduz seus negócios. A relação de frenemy das duas é simplesmente deliciosa de se acompanhar. Os episódios com a presença de Melanie são os mais divertidos da temporada, em especial o décimo, intitulado Vintage Fashion Forum, onde são explorados os mais diversos tipos de personas existentes nesses fóruns e suas condutas neles.
Por se passar na segunda metade da década passada, a série traz uma boa quantidade de referências ao mundo pop, como a morte de Marissa em The O.C. e o surto de Britney Spears. Além disso, Girlboss tem uma excelente trilha sonora, ambientação e figurinos. Mesmo com problemas pontuais durante a primeira temporada, a série tem episódios curtos com um bom ritmo, fala sobre o empoderamento feminino, sobre buscar seus objetivos e merece ser conferida.