Jukebox | Katy Perry – Witness
Katy Perry é um artista notável, e por mais que “Witness” tenha ficado aquém do esperado para alguns, é visível a tentativa de amadurecimento e de proporcionar experiências distintas de seu trabalho prévio neste álbum. Fazendo uma recapitulação rápida, seu álbum “Prism“, de 2013, já demonstrava um esforço mais sombrio e sério da cantora em se expressar, mas é apenas em “Witness” que considero que ela tenha conseguido realizar isso. A fase “Teenage Dream” passou e esses sonhos se transformaram em pesadelos bem fundamentados, como a derrota histórica que os democratas representados por Hillary Clinton – a quem Katy apoiou e defendeu durante todo o ano passado – sofreram nas urnas americanas, fazendo com que fosse necessário recalibrar sua compreensão do mundo após isso.
Esse cenário de conflito é muito bem exposto no lead single do álbum chamado “Chained To The Rhythm“, onde a cantora aborda questões interessantes como todos estarmos vivendo numa bolha, condicionados a realizar ações sem nos preocuparmos em entender o porquê disso. É uma música de verão, feita para dançar e se divertir, entretanto tenta entregar algo a mais, mesmo que esse adicional não seja algo muito consistente ou original. De todo modo, o single tinha um propósito e um objetivo claro, coisa que muitas das músicas de “Witness” parecem não ter, o que no geral enfraquece bastante a obra.
Um dos pontos que causaram um pouco de estranheza ao ouvir o álbum é o fato de não haver uma ideia original entre as faixas que o compõem, principalmente por se tratar de um trabalho cujo objetivo é ser visto como sendo conceitual. Temos tantos escritores e produtores diferentes envolvidos que o que faz de Perry um talento individual foi perdido na mistura. Enquanto temos faixas boas como a já mencionada “Chained To The Rhythm“, a faixa título do álbum “Witness“, a dançante “Roulette” e a divertida e debochada “Swish Swish” – que aparentemente seria uma resposta para Taylor Swift –, por outro lado temos a péssima e sofrível “Bon Appétit” e a insossa “Miss You More“, que parece algo requentado de outros álbuns.
Duas canções se destacam positivamente aqui: a primeira é a ótima “Déjà Vu“, que conta com letra e produção espertas e ritmo dançante, que lembra um deep house/urban sem ser clichê ou requentado. Os vocais da cantora estão no ponto e a canção cresce à medida que a escutamos.
A segunda, e minha favorita, é “Power“. Com um arranjo certeiro e letra feminista poderosa, a canção é daquelas que nos fazem viajar. A produção é algo absurdo, muito bem executada com os toques de sax intercalados com a guitarra elétrica. É sem dúvidas um eletro R&B de qualidade e uma das melhores músicas que a cantora já lançou.
Segue trecho da letra:
You can’t clip my wings, can’t wilt my flowers
Stole my time, but I’ll make up the hours
‘Cause I’m a goddess and you know it
Some respect, you better show it
I’m done with you siphoning my power
Power
A lista de colaboradores de “Witness“, que vai de Purity Ring até Hot Chip, prova que Katy Perry não se contenta em simplesmente girar as rodas, embora as habilidades de synth-pop do último sejam estranhamente desperdiçadas na canção que encerra o álbum, “Into Me You See“. Ela se mostra convincentemente confortável em diversos momentos distintos e em diversos estilos. Seja na faixa shade oficial “Swish Swish“, apresentando um R&B mais melódico (em “Tsunami“) e retomando sua veia gospel (em “Pendulum“, no qual ela entrega uma voz surpreendentemente soul).
Dito isso, é preciso constatar que, mesmo contando com algumas canções genuinamente boas, infelizmente “Witness” não possui os grandes ganchos que impulsionaram o passado de Perry e que fizeram com que a cantora atingisse o topo dos charts tantas vezes. A tentativa de ser mais conceitual e séria é válida, entretanto ainda não foi dessa vez que Katy conseguiu chegar lá para valer.
Avaliação do Álbum
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