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Crítica | O Círculo

Então chega a nós o novo filme de Emma Watson, que ainda vem acompanhada de Tom Hanks e John Boyega (Star Wars: O Despertar da Força), com uma história baseada no drama de Dave Eggers, autor de Os Monstros, livro que serviu de inspiração para o filme de 2010 Onde Vivem os Monstros. Isso tudo serviria de justificativa para assistir ao filme e ter quase 100% de certeza de que, com esse elenco e roteiro, além da direção de James Ponsoldt (O Maravilhoso Agora), seria espetacular.

Talvez essa seja a primeira vez que vejo um trailer que não tenha sabido vender direito o conteúdo de seu filme. Posso ter criado certo bloqueio, visto que todas as vezes que me deparei com ele nos cinemas estava dublado. Fato é que a atmosfera que o trailer criou de “somos todos felizes com o Círculo”/”alguma coisa muito grave está acontecendo no Círculo” foi muito forçada e continuou forçada ao longo do filme. Mas, afinal, o que é o Círculo? Posso dizer que ele é, basicamente, tudo. Uma grande empresa juntou e-mails, contas, atividades diárias, tudo o que você possa imaginar, em uma única plataforma digital, que contém todos os detalhes da vida de todos – todos que convém.

Mae Holland (Emma Watson), uma jovem que precisava desesperadamente de um emprego melhor, consegue uma vaga no Círculo e fica muito empolgada com todas as possibilidades que poderá ter a partir daí. Devo dizer que o uso da palavra “excited” – empolgado, animado – ultrapassou os limites do aceitável neste filme. Suponho que seja proposital, uma vez que é assim que você deveria se sentir quando se está trabalhando para a maior empresa do mundo e que todos a todo o momento fazem questão de reforçar como isso é maravilhoso. Realmente a imagem que pintam do Círculo é fantástica, assim como as possibilidades que ele pode oferecer. Sendo Mae uma personagem clichê, com uma família em necessidade – seu pai tem esclerose múltipla e nenhum dinheiro –, é claro que, para o bem maior, ela se joga nos braços do Círculo e mergulha de cabeça nesse mundo em que saber de tudo é o que o sustenta.

Um detalhe interessante a ser mencionado é a questão do círculo, agora com letra minúscula. A forma geométrica. Experiências realizadas muito tempo atrás revelam que se você colocar um rato dentro de um ambiente cuja forma é triangular, ele permanecerá no meio, podendo assim ser facilmente vigiado. Se esse mesmo rato for colocado em um espaço de formato redondo, correrá em círculos incansavelmente. Ou seja, como você será capaz de controlar as informações e pessoas dentro de um círculo, seja ele virtual ou real, se tudo e todos correm livre e desordenadamente por todo lugar? E é isso que começa a acontecer, as pessoas começam a perder o controle e a noção de que aqueles dados são mais que meras informações, são partes da vida das pessoas. Uma vez mal administradas, essas informações podem vir a prejudicar de formas muitas vezes irreversíveis.

Mesmo assim, o roteiro do filme é leve, não possui o drama todo que aparenta. A história de Mae é simples, assim como sua personagem que, de certa forma, foi levada pela correnteza. Quando ela se deu conta de tudo o que estava acontecendo, encontrou uma solução interessante para seu problema, criticando inclusive os donos da empresa, que ficavam acima de tudo, até da ideia de transparência. O filme vende a ideia do caos que as redes sociais podem disseminar, mas também traz a perspectiva de que quando esse caos ameaçar aparecer, não se deve querer acabar com a tecnologia, mas sim buscar na própria a solução. Desta forma, O Círculo não é um filme maravilhoso como aparentava ser, mas não é de todo ruim, afinal essa realidade nós já estamos vivendo. E todos estão observando.