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Crítica | Os Meninos que Enganavam Nazistas

Você pode estar pensando “ah não, mais um filme sobre nazistas”. E é compreensível que pense assim. Muito porque você provavelmente é de uma geração que não viveu a guerra, só ouviu falar e também pelo fato de ter a grande sorte de viver em um país que nunca teve em seu território tamanha violência – embora a situação esteja mudando atualmente.

Se há no mundo uma temática que não precisa de personagens ou acontecimentos fictícios, com certeza é a Segunda Guerra Mundial. Tanto aconteceu com tantas pessoas que há, sem dúvida, ainda muitas histórias não contadas. Decerto, algumas permanecerão ocultas para sempre, por isso quando nos deparamos com “mais um filme sobre nazistas”, devemos dar atenção, pois mais uma história conseguiu sair das sombras, mais uma triste lembrança de uma família e mais um pedido à humanidade para que nunca mais cometa os erros do passado.

Paris, 1941. O país é ocupado pelo exército nazista e o medo invade as casas e as ruas francesas. O poder de Hitler se mostra absoluto e brutal na França. E é durante um dos períodos mais turbulentos da História que a emocionante narrativa de Joseph e Maurice se desenrola. Irmãos judeus de 10 e 12 anos de idade, que precisam deixar a cidade em busca de uma zona livre, onde poderão viver em paz. Com o tempo e acontecimentos posteriores, os dois vão perceber que encontrar tal lugar é bem mais complicado do que parecia ser e que são poucas as pessoas em quem se pode de fato confiar.

O filme cumpre seu papel de relatar mais uma versão de um momento tão marcante na História. Ele possui um tom leve, uma vez que o personagem principal é o irmão mais novo. Vemos o mundo através de seus olhos e esse ponto torna as crueldades cometidas nesse período ainda mais pesadas, pois fazem um contraste muito maior com a inocência infantil. O amadurecimento dos dois irmãos é incrível e, embora não possamos ter certeza de que todos os fatos realmente aconteceram, sabemos que há veracidade nessa história, então choramos e nos confortamos com o fato de que tudo aquilo ficou para trás.

Como todo filme com elemento nazista, os vilões são retratados da mesma maneira. Não apenas são assassinos, como gostam do que estão fazendo. Os oficiais que aparecem no filme, os soldados, todos metem medo e aparentam de certo modo um sadismo, um claro prazer de perseguir judeus. É possível que existissem pessoas assim, afinal, existem pessoas assim até hoje. Mas também existiam pessoas que só estavam cumprindo ordens, que não enxergavam o grande quadro – por ignorância ou medo.

Fato é que, ao final, quando a guerra acaba, os vencedores não mostraram nenhuma misericórdia com os perdedores, inclusive com aqueles que simplesmente trabalhavam em escritórios ou como o dono da livraria onde Joseph trabalhara, taxado como simpatizante. Mulheres tiveram seus cabelos raspados e foram violentadas, mais homens foram mortos. Como se um terror justificasse o outro. A nobreza de Joseph ao tentar impedir que batessem em seu patrão é o que falta nos homens que decidem as guerras. Filmes como este vêm reforçar que o que aconteceu no passado não deve se repetir. Só que ainda há manchas frescas de sangue no chão.