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As Duas Irenes | Confira nossa entrevista com o diretor Fabio Meira e as protagonistas do filme

Premiado no Festival de Gramado, o longa nacional As Duas Irenes estreia nesta quinta-feira, 14 de setembro. O primeiro filme do diretor Fabio Meira levou o Prêmio da Crítica Abraccine de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante para Marco Ricca e Melhor Direção de Arte.

Nós conversamos com o diretor e com as duas protagonistas, Priscila Bittencourt e Isabela Torres, sobre as expectativas para a estreia e outras curiosidades sobre as filmagens. Confira:

Leandro Alvarenga: Como surgiu a ideia para esta obra? Sei que é uma história de família, certo?

Fabio Meira: Você se lembra da sequência do jogo do anel? O filme existe por causa daquela cena. O jogo é uma crença antiga passada pelos avós, que promete dizer quantos filhos as pessoas têm e até mesmo o sexo. Fizeram esse jogo na minha família quando eu era adolescente e deu o número exato com todo mundo, menos com meu avô. Deu muito mais, e eu fiquei impressionado.

O Tonico (Marco Ricca) no filme não aceita fazer o jogo e a gente fica até em dúvida se ele tem mais filhos além das quatro que a gente conhece ali (risos). Então eu perguntei para a minha mãe e ela disse que tinha uma possibilidade de meu avô ter duas filhas com o mesmo nome, e fiquei com isso na cabeça. Depois de 15 anos, essa história voltou à minha memória e então eu decidi que ia fazer meu primeiro longa sobre isso. Claro que a história real é muito menos fantasiosa, meu avô não teve duas famílias e minha tia nunca teve interesse em conhecer a outra menina. O filme é o que poderia ter acontecido.

LA: Por que esse filme levou cerca de oito anos para ser feito?

FM: Por questão de financiamento. Tem a dificuldade do primeiro filme também, né? Nós não ganhamos vários editais, até que um dia ganhamos um do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. O longa foi feito com o orçamento muito baixo. Nós íamos a pé para a locação, não tínhamos transporte. O que era maravilhoso, na verdade. Tudo em Goiás é muito perto, sabe? Eram três quadras, uma quadra e uma ou outra que era mais longa. Eu mesmo queria caminhar sozinho do set para o hotel, era um momento gostoso de reflexão.

LA: É tudo muito bonito lá, apesar de parecer bem quente.

FM: É, e olha que a gente nem focou os cartões postais. Eu quis fazer um recorte diferente da cidade. Como eu conheço Goiás muito bem, a intenção foi mostrar tudo de um jeito mais interessante. Na minha opinião, não é necessariamente a cidade de Goiás que está sendo representada na obra, pode ser qualquer lugar: Alagoas, Bolívia, Peru ou Colômbia. Não fica explícito onde a história se passa. Eles falam português e tem sotaques diferentes. O filme não está localizado no tempo nem no espaço.

LA: Tem alguma influência estética da sua formação de cinema em Cuba neste seu primeiro filme?

FM: A peculiaridade da formação em Cuba é que a gente fica isolado numa fazenda durante três anos. Manhã, tarde e noite. A gente assiste muitos filmes e muitos cineastas eu conheci lá. Um fotógrafo que eu gosto muito e a Daniela Cajías, que faz a fotografia de As Duas Irenes, também gosta, é o Sven Nykvist, diretor de fotografia do Bergman, que trabalha essencialmente com luz natural. Então, a gente queria desde sempre usar a luz natural de Goiás.

LA: O que foi levado em consideração na hora do casting das protagonistas e o que a Priscila e a Isabela têm para terem conseguido esses papéis?

FM: A primeira coisa foi o tipo físico. Era importante que a Irene da casa principal (Priscila Bittencourt) fosse magrinha e tudo mais. A segunda coisa foi a inteligência, e as duas são muito inteligentes! Isso é uma coisa que é muito importante para ator, pois eles têm que tomar decisões rápidas.

Eu fiquei muito impressionado com a Priscila no primeiro teste, com a capacidade de improvisar. A Isabela também, muito inteligente e um coração gigantesco. Eu cheguei até a Isabela porque ela é muito parecida com a Inês Peixoto, atriz que interpreta sua mãe. Eu a vi em um site de modelos e comecei uma caça por Isabela Torres nas redes sociais (risos).

LA: O que você precisava na atuação das protagonistas que demandou que elas não lessem o roteiro previamente?

FM: Eu queria que elas não aprendessem demais e chegassem no set muito “estudadinhas”, falando como se estivessem na televisão. Ou mesmo reproduzir um som de televisão, eu não queria isso. Eu sempre perguntava com que frequência as meninas viam televisão, e nenhuma das duas eram de assistir TV. Eu queria que elas dependessem dos olhos uma da outra, por isso que elas não sabiam nada. Precisava que elas ficassem muito atentas para saber o que cada uma ia fazer em seguida.


Leandro Alvarenga: Em que momento da vida vocês decidiram que seriam atrizes? E como chegaram até este filme?

Priscila Bittencourt: Eu fiz teatro e balé clássico por dez anos, junto com outros tipos de dança, e sempre gostei muito de arte. Cantar, escrever e ler. Minha família é muito artística. Sempre quis ser atriz, e quando veio a oportunidade do filme eu aceitei. Foi totalmente diferente do teatro, tudo tem que ser mais contido, tem que jogar tudo para o olhar, é tudo ali na tela. Foi uma experiência muito diferente para mim, o filme.

Isabela Torres: Como foi minha primeira experiência, eu nunca não tinha nem pensado nisso! Sempre fiz danças urbanas desde pequena, então tinha essa desenvoltura de subir no palco e me apresentar dentro de mim, mas nunca como atriz, pois sempre fui muito tímida. Por isso que o filme foi tão importante.

PB: E a personagem dela é muito diferente dela na vida real, foi muito engraçado porque ela foi com tudo!

Sei que vocês não tiveram acesso ao roteiro e a maioria das cenas foram, de certa forma, improvisadas. Como funcionou isso tudo?

IT: A gente ficou uma semana com a preparadora de elenco antes de começar a gravar, e tinha muito exercício de olhar. Rolou uma conexão bem especial em relação a isso.

PB: É, e a gente sabia a base principal do filme!

Vocês duas interpretam jovens de 13 anos que são muito maduras para essa idade. A Irene da Priscila consegue guardar um segredo muito tenso, a da Isabela já tem uns envolvimentos amorosos e ajuda a mãe quando ela está triste. Vocês acham que esses fatores podem ter contribuído para o amadurecimento precoce das personagens?

PB: Eu acho que na minha Irene existe uma questão do medo muito forte. Ela sabe que se contar isso vai acabar destruindo a sua família. Mesmo sendo a ovelha negra da família, ela tem esse receio. Ninguém liga muito para ela. A gente não sabe muito bem se a mãe sabe ou não da outra filha, mas o que parece é que quando ela olha para a minha personagem, vem a memória de que a filha dela nasceu no mesmo dia em que a da outra mulher do seu marido.

IT: Eu acho que elas aceitam a situação e tentam seguir com a vida delas. No final, elas dão uma reviravolta e confrontam isso. Os jovens da nossa cidade não comentam muito disso.

***

As Duas Irenes estreia nesta quinta-feira, 14 de setembro, em circuito comercial e vale a pena lembrar que a Sessão Vitrine Petrobras dá uma ajuda para você apoiar o cinema nacional ao disponibilizar ingressos no valor máximo de R$12 (R$6 meia-entrada) nas duas primeiras semanas de exibição do longa, em mais de 20 cidades. Os ingressos podem ser comprados na bilheteria ou através do cartão fidelidade, que pode ser adquirido no site oficial do projeto.

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