ReviewsSéries

Supergirl | 3×03 – Far from the Tree

Entre todas as séries de herói da CW, Supergirl é de longe aquela que mais toca em assuntos do mundo real, seja homossexualidade, política, preconceito… Foram poucos os assuntos “polêmicos” ainda não explorados na série, e se teve algo que Far from the Tree mostrou é que esse caminho rende boas narrativas.

Sem se preocupar em dar andamento a qualquer início de enredo principal da temporada, o terceiro episódio de Supergirl foi dedicado ao relacionamento entre pais e filhos, mais especificamente J’onn J’onzz, Maggie e seus respectivos progenitores. Duas histórias completamente diferentes em substância e intenção: enquanto que a do marciano, apesar de momentos emocionantes (e até um pouco de alívio cômico), foi a parte do enredo que deu origem às cenas de ação, as cenas dedicadas à noiva da Alex foram muito mais emotivas e carregadas de drama. E a melhor parte disso tudo é que essas duas histórias funcionaram muito bem.

A parte do episódio que se passou em Marte, como dito antes, foi a responsável pela ação, colocando Supergirl, Caçador de Marte e Miss Marte contra os marcianos brancos. A grande luta em si não foi nada incrível, mas levando em conta o tanto de dinheiro disponível para se gastar com efeitos especiais, não dá para reclamar do que foi apresentado. Mas o que importa é que o melhor momento desse confronto nem teve luta: Kara ouvindo Britney Spears em Marte foi a referência do episódio e com certeza o momento mais divertido da temporada até aqui.

Não foi só ação e comédia que essa história apresentou, e ver J’onn descobrir que seu pai estava vivo foi extremamente emocionante. As interações iniciais entre os marcianos verdes foram especialmente boas, o impacto não teria sido o mesmo se M’yrnn tivesse aceitado que aquele era seu filho logo de cara, e essa foi uma boa sacada dos roteiristas. Não dá para saber qual será o futuro do pai de Hank na série, se ele será ou não relevante daqui para frente, mas mesmo que isso não tenha grandes repercussões só o momento em que ele e o filho se abraçaram depois de séculos já fez valer a pena.

E falando em reencontros, não dá para ignorar a volta do pai da Maggie para sua vida. De nada adiantaria a série se esforçar para tocar em assuntos mais pesados se não conseguisse fazer isso direito, e se teve algo que ficou claro neste episódio é que os roteiristas sabem muito bem como escrever os diálogos entre as personagens. As duas maiores conversas entre Maggie e seu pai foram bons exemplos disso, tanto a discussão quando ele sai da festa, quanto a despedida antes de ele sair da cidade. Ambas foram marcadas por frases fortes: “A única coisa que eles odeiam mais do que um mexicano é um homossexual” teve um timing excelente, levando em conta a situação política dos EUA, e ainda conseguiu mostrar que apesar de tudo ainda existe amor por sua filha no coração de Oscar. E, além disso, essa frase entrou como uma facada porque mostrou que todo o sofrimento que vimos a Maggie expressar não era exclusividade dela. Provavelmente essa foi a cena mais emocionalmente carregada do episódio.

Não que a despedida não tenha tido emoção, teve muita, e a frase da Maggie antes de sair foi o destaque: “Eu não preciso de nada de você, eu já estou bem”. Esse momento foi marcante porque atingiu todo mundo na audiência que já passou por rejeição dos pais e sofreu com isso por muito tempo antes de perceber que depois de um tempo não precisava mais da aprovação de ninguém. Essa foi uma mensagem ainda mais ampla do que a anterior, e o fato de que tanto nessa conversa quanto na anterior as emoções dos personagens ficaram tão claras devido ao ótimo trabalho dos atores. Isso só deixou o momento ainda mais impactante.

Far from the Tree foi o melhor episódio da temporada até aqui porque soube construir muito bem um enredo dramático e não teve medo de tocar nas feridas da xenofobia e da homofobia americana. Além disso, soube balancear tudo isso com alguns momentos de descontração que apresentaram ação e comédia bem executadas. É bom ver que a série funciona tão bem mesmo quando a personagem principal não é o centro das atenções.