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Crítica | 15h17 – Trem Para Paris

Clint Eastwood é um ator com longa e respeitada carreira, e como diretor já entregou ao público excelentes filmes como As Pontes de Madison, Os Imperdoáveis, Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, entre outros. Em todos os trabalhos que dirigiu, Eastwood sempre fez questão de colocar a sua visão de mundo (como republicano, é apoiador dos militares, do porte de armas, da religião, etc) dentro das temáticas que abordava, e neste 15h17 – Trem Para Paris isso não é diferente.

O longa é baseado no livro homônimo escrito por Anthony Sadler, o soldado Alek Skarlatos e o piloto da Força Aérea Spencer Stone, que interpretam a si mesmos, e que conta o relato real no qual no dia 21 de agosto de 2015, os três jovens viajavam pela Europa e impediram um ataque terrorista no trem n° 9364 da Thalys a caminho de Paris. O filme acompanha a vida desses três amigos, desde a infância, passando pela descoberta de seu “propósito” na vida, até a série de eventos improváveis que culminaram na interrupção do ataque.

É difícil encontrar méritos em 15h17 – Trem Para Paris já que o longa parece estar completamente à deriva e quase nada funciona durante seus pouco mais de 90 minutos. O filme é profundamente enfadonho e parece ser uma grande panfletagem das Forças Armadas americanas, de como são maravilhosos os “heróis” que fazem parte da instituição e quão sortudas são as demais pessoas que podem estar perto deles. O roteiro, completamente capenga, reproduz diálogos forçados e todos os tipos de esterótipos possíveis, como o alemão amante do nazismo, as holandesas que servem apenas para festejar e, claro, os americanos donos da verdade e salvadores do mundo.

As atuações do longa também são sofríveis não apenas por parte do trio protagonista, que não são atores profissionais (uma vez que isso não significa muita coisa, já que Brooklynn Prince e Bria Vinaite do excelente Projeto Flórida também não são e deram um show), mas também do elenco veterano. Nenhuma linha de diálogo que sai da boca de Judy Greer, Jenna Fischer, Thomas Lennon e do ótimo Tony Hale é crível. Tudo soa muito artificial e irreal.

O discurso pró-armamento e pró-exército do diretor no longa é vergonhoso, no qual crianças têm várias armas (ainda que de brinquedo) em seu poder, usam o tempo todo uniformes camuflados, se cumprimentam utilizando continência e só possuem o grande sonho de ser militar, é algo que chega a ser patético. Além disso, Eastwood reforça também o estereótipo de que uma mulher solteira ou divorciada não tem capacidade de criar bem seus filhos e que, para isso, eles devem estar ao lado do pai, a figura masculina que irá colocar as rédeas e mostrá-los o caminho correto a seguir.

Por fim, a única coisa que funciona em 15h17 – Trem Para Paris é a cena de ação no trem, que ocorre quase nos momentos finais do longa, quando Eastwood mostra o evento com um certo imediatismo no estilo de um documentário, mas tudo aquilo que norteia a produção – especialmente o roteiro e as atuações – não condiz com a história real e faz o filme ser completamente raso e esquecível.