Crítica | Círculo de Fogo: A Revolta
Existem filmes que se destacam por serem despretensiosos ao explorar uma história simples de forma eficiente e envolvente. Círculo de Fogo: A Revolta tenta se encaixar neste rol, e por mais que possua alguns momentos inspirados e divertidos, infelizmente o resultado final ficou bem distante desta máxima.
O primeiro – e principal – problema é que, mesmo após assistir ao longa, não é possível se convencer que exista uma revolta em Círculo de Fogo : A Revolta. O que vemos são monstros kaijus gigantes brotando literalmente das profundezas do Oceano Pacífico (pelo menos, parte do título é definitivamente precisa), mas a definição de “revolta” no dicionário não se aplica em nada desta história: não existe rebelião armada, a menos que a intenção fosse nos fazer torcer pelos monstros kaijus em sua tentativa de derrubar a humanidade e destruir nosso mundo. Geralmente costuma-se assumir que os humanos são os mocinhos em qualquer briga de cinema entre pessoas e bestas infernais que expelem raios laser de mais de um metro de altura, mas talvez este filme seja mais subversivo do que jamais pensamos.
A aposta é que escolheram um título que soasse legal e interessante sem realmente pensarem nas coisas. Dado o nível geral de qualidade do filme, isso não seria absurdo. Basicamente ele pega a história do primeiro longa e replica num cenário dez anos depois: um valente grupo de humanos pilotando robôs gigantes, os jaegers, para fechar uma invasão kaiju. Jake Pentecost (John Boyega) é o filho mal-intencionado de um dos heróis dessa guerra, Stacker Pentecost (Idris Elba, que não está neste filme), que se sacrificou para salvar o mundo. Jake tentou se tornar um piloto de jaeger, mas acabou abandonando o programa de treinamento para procurar lixo eletrônico que ele vende para luxos distópicos futuros, como biscoitos Oreo e molho picante.
Como é preciso pôr o protagonista no centro da trama, ele é pego invadindo um lugar onde há carcaças de jaegers destruídos durante a guerra e acaba conhecendo a rebelde Amara (Cailee Spaeny), outra órfão da invasão kaiju. Ela construiu seu próprio robô, e ao invés de serem mandados para a prisão, os dois são enviados para a base na qual novos pilotos de jaeger são ensinados a fazerem “drift” (o termo para a mente vulcana que os permite controlar os grandes robôs como uma equipe). Lá, Jake descobre um plano de uma cientista chinesa (Jing Tian) para substituir os jaegers por drones pilotados remotamente e reconecta-se com seu velho amigo drift, Nate Lambert (Scott Eastwood, que possui em tela o carisma de uma porta de ferro enferrujada).
A primeira metade do longa, que serve apenas para estabelecer as histórias e conflitos escassos dos personagens, é entediante. A segunda metade é mais animada, mas muito mais burra, com o kaiju gigante subindo novamente das profundezas do Pacífico para invadir algumas paisagens urbanas geradas por computador. Não há um único segundo em que qualquer coisa envolvendo os jaegers ou o kaiju pareça real, e isso é muito frustrante para o espectador. Suponho que seja mais fácil afastar milhares e milhares de pessoas que seriam mortas durante uma grande batalha em Sydney ou Tóquio quando claramente o que vemos não é Sydney nem Tóquio. Entretanto, o estilo visual caricatural e barulhento provavelmente permite que você desligue o cérebro, encerre quaisquer associações com a realidade e apenas aproveite a carnificina.
As melhorias feitas nos jaegers nesta sequência não adicionam nada realmente novo à trama, mas ao menos John Boyega é uma excelente aquisição ao elenco e uma grande atualização no papel principal. Ele irradia charme, carisma e tem um relacionamento bem mal-humorado com Nate e Amara, embora o roteiro lhe dê muito pouco para trabalhar. Nenhum filme em que as pessoas gritam repetidamente sobre “minerais da terra rara!” pode ser de todo ruim, mas esse chega bem perto, até mesmo o grande discurso de Boyega sobre o “Apocalipse!” ao seu colega é um fracasso.
No final, a sensação que fica é de que o filme teria sido muito melhor se fosse apenas com os robôs de CGI gigantes se digladiando, pois os dramas humanos não dão liga e só servem para quebrar a fraca tensão que tentam construir durante a trama.