Fora de Cena | O Predador
A década de 1980 com certeza foi muito especial para o mundo do cinema, com filmes que inovaram e que permanecem no coração dos cinéfilos até hoje. Grandes clássicos do horror surgiram nessa época, e seguindo a premissa de Alien (1979) veio O Predador (1987), que é um clássico de seu tempo. Enquanto Alien pode ser considerado o grande clássico da ficção científica dessa época, O Predador vem com uma vibe um pouco diferente, com muito mais ação, bem no estilo Rambo.
O filme em si tem um enredo muito simples: um grupo de soldados especializados em resgate tem uma nova missão em uma floresta de algum lugar genérico da América Latina. Eles acabam sendo surpreendidos por essa criatura literalmente de outro mundo, cujo passatempo é caçar todo tipo de espécie, inclusive seres humanos, de maneiras diversas e muito dolorosas. Esse grupo, que exala testosterona, conta com o grande senhor dos filmes de ação da década de 1980, Arnold Schwarzenegger, e com outros machões da época, inclusive Carl Weathers, que interpretou o vilão Apollo Creed em Rocky. Ele, juntamente com Schwarzenegger foram responsáveis pela criação de um dos closes mais másculos de um aperto de mão da história do cinema.
Apesar de simples, a história do filme consegue nos prender através do suspense que surge em torno dessa criatura misteriosa, que permanece invisível a maior parte do tempo. Também é interessante ver todos esses homens super fortes e cheios de si tremerem de medo desse ser misterioso. Assim como em Alien, não vemos o Predador logo de cara, só vemos relances de seu rosto, seus olhos, seu sangue verde fosforescente, suas armas superdesenvolvidas, até que no final somos apresentados ao rosto por trás da máscara, e ele não é nada bonito. Essa é uma boa técnica que não nos deixa desviar os olhos da tela, porque é difícil até para quem está assistindo identificar onde o Predador está se escondendo, sem falar na curiosidade crescente sobre como ele aparenta ser e quem irá morrer a seguir.
Por conta desse enredo simples e dos claros privilégios por protagonismo do personagem de Schwarzenegger, fica claro desde o início que todos aqueles homens vão morrer e que a luta final será entre o Predador e o troglodita austríaco. Abrindo um parêntese muito rápido aqui: se você é fã, ou pelo menos já viu algum outro filme da época em que o Schwarzenegger aparece, note que a quantidade de falas dele é mínima. A verdade é que no início de sua carreira ele não falava inglês muito bem, e convenhamos que com aquele corpo enorme ele acabava interpretando papéis que realmente não exigiam muitas palavras (vide Conan).
Bom, fato é que todo mundo morre, menos o Schwarzenegger e a mulher, cujo papel e importância são mínimos, mas não se preocupe, pois isso não é um spoiler. O interessante é ver como o Predador age e como ele escolhe a próxima vítima, guardando sempre um troféu (um crânio, ou uma coluna vertebral) de recordação. Ele não mata todo mundo de uma vez, é realmente um caçador e o faz por esporte, logo precisa se divertir no processo. Dessa forma, faz muito sentido que o personagem de Schwarzenegger tenha sido deixado por último, uma vez que era o mais forte do grupo. Ele então irá se preparar para enfrentar a criatura e em um certo momento do filme percebemos que ele se torna o predador e não mais a caça. Essa pequena inversão, quase um “plot twist“, é muito bem pensada e infelizmente não é muito mais abordada nas sequências como nesse caso.
Uma curiosidade: inicialmente o ator escolhido pelo diretor John McTiernan para interpretar essa criatura que marcou o cinema foi ninguém menos que Jean-Claude Van Damme, que na época ainda não tinha feito O Grande Dragão Branco, ou seja, não era famoso. Apesar disso, ele já era especialista em Kickboxing e achou que seria uma boa ideia incorporar esse estilo de luta ao Predador. Isso não agradou os produtores nem um pouco, que por sua vez pediram ao ator para parar de utilizar a técnica, uma vez que ela não condizia com o personagem. Mas todo mundo sabe que há certas coisas que simplesmente não mudam, como por exemplo na natureza: as abelhas fazem o mel, os leões caçam e os ursos atacam o Leonardo DiCaprio. Já no cinema, o Nicolas Cage tem a filha sequestrada, o Matthew McConaughey assobia a cada linha de diálogo e o Jean-Claude Van Damme… chuta. Resumindo, não deu nada certo e o ator foi demitido.
Por fim, é importante lembrar que precisamos ver este filme com a mentalidade da época para podermos digerir as piadas de alguns personagens e também a péssima qualidade dos chroma key. Por outro lado, a trilha sonora do longa é sensacional, colaborando enormemente para o crescente suspense do enredo, e a maquiagem e todos os detalhes de figurino e de acessórios do Predador ficaram realmente incríveis. O bom de um filme como este ter sequências é que os recursos visuais só melhoram a qualidade, mas mesmo assim é importante conhecer a história que deu origem a todo um universo, que se expandiu não apenas na grande tela, mas também nos quadrinhos. O Predador é, em suma, um clássico que merece um lugar de destaque na nossa cinemateca.