Crítica | Deadpool 2
Deadpool 2 não é um filme que, em teoria, deveria funcionar para o grande público, mas seus roteiristas mostram que conhecem muito bem seu público-alvo e apresentam um longa que entrega exatamente o que promete: diversão e um amontoado de referências que tornam toda a loucura que vemos na tela em algo engraçadíssimo.
O personagem-título, uma espécie de forasteiro excêntrico do Universo Marvel Comics, ganhou vida novamente na atuação irretocável de Ryan Reynolds nos cinemas e sua principal característica, que também é algo que dá força e move o filme, é que ele está ciente de que faz parte de uma HQ e quebra a quarta parede diversas vezes ao longo da projeção. O filme, tal qual seu antecessor (Deadpool – 2016), se encaixa na mesma storyline e local da franquia X-Men, sendo uma transgressão direta de tudo o que vemos na história dos mutantes, inclusive contando ainda com personagens do universo em diversos momentos – uma das melhores piadas acontece durante a sequência em que o Deadpool vira trainee dos X-Men.
O maior desafio de Deadpool 2 é conseguir superar o desgaste do personagem. Não me entenda mal, acredito que é possível que esta seja uma franquia longa e Ryan Reynolds entrega uma performance estelar aqui, mas é um fato que quando ele aborda a câmera para dar início ao filme, não soa provocador mais e nem nos deixa surpresos com as piadas dos primeiros minutos de produção. Só parece… normal.
Você não verá nada em Deadpool 2 que seja tão inovador (em termos do gênero filmes de super-heróis) como o que você viu em seu antecessor, e isso não é um demérito. A franquia só permanece fiel à fórmula certeira (ação – piadas – situações absurdas – piadas) e creio que foi a decisão mais acertada que foi tomada, pois se o encararmos como um filme de comédia de ação, Deadpool 2 é imbatível. O diretor David Leitch (Atômica) e os escritores Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds se mostram inspirados e tiram sarro de tudo, desde o próprio filme até 007, Frozen, Vingadores (a piada sobre a relevância do Gavião Arqueiro é genial), o universo DC, Barbra Streisand, entre outros.
A história começa com Wade no fundo do poço devido a uma tragedia pessoal recente, testando seus limites de “imortalidade”, e nos leva direto para uma sequência de créditos iniciais à la James Bond. Nela, Deadpool é apresentado ao som de Céline Dion e a exibição da ficha técnica é feita de forma no mínimo “original” e sarcástica – como esperado. A narrativa central se inicia quando Colossus, o principal frenemy/crush e X-Men oficial, recruta Deadpool como um “X-Men em formação” para tentar pôr sua vida de volta aos trilhos. Mas quando Wade transforma uma missão em um banho de sangue, ele é deserdado pelos X-Men e enviado para uma prisão mutante com o alvo de sua missão estragada, Russell (Julian Dennison), um adolescente angustiado que pode atirar bolas de fogo de suas mãos. (Como dar errado uma combinação perfeita dessas?)
Quando uma máquina de matar do futuro – com um “braço de Soldado Invernal” – chamado Cable (Josh Brolin) aparece para matar o jovem Russell por razões até então desconhecidas, Wade resolve ouvir sua consciência e tenta proteger o garoto. Ele reúne sua própria equipe de anti-heróis, chamada de “X-Force”, e sai em uma missão para chegar até Russell antes que Cable o faça.
O problema com Deadpool 2 é que como ele está constantemente zombando e destacando a fraudulência do gênero ao qual pertence, durante momentos em que o filme tem um tom dramático e não está tirando sarro de si mesmo (o que, surpreendentemente, acontece com bastante frequência), é difícil dizer se devemos estar rindo ou simplesmente sermos receptivos a qualquer emoção que a cena está tentando projetar. Acredito que isso acabe tornando a narrativa totalmente confusa e um pouco dispersa, pois suaviza tanto os elementos cômicos como os dramáticos do longa de forma simultânea.
Falando ainda do que não empolga tanto, é preciso citar o Cable. As expectativas estavam altas para a aparição do personagem, entretanto, apesar de entender do motivo pelo qual ele estava ali e o que queria fazer, tudo parece meio simplório e jogado demais. Novamente, é possível que o tom desconexo do filme tenha atrapalhado a percepção dramática que o personagem tentou trazer para a trama – e Ryan Reynolds rouba tanto a cena em todos os momentos que quase todos ficam meio apagados na história. Digo quase todos porque se teve uma personagem que #roubouacena, essa, sem dúvidas, é Dominó. Todas as cenas de Dominó são excelentes, desde o casting maravilhoso em que ela explica por que ser sortuda é um superpoder, até toda a sequência de ação principal na qual ela tem sempre participações importantíssimas.
No que diz respeito às cenas de ação, todas são muito bem executadas e divertidas, sempre permeadas por referências e elementos de cultura pop proferidos pelo protagonista. Há sim os momentos Rated-R no longa (um envolvendo Wade parcialmente recrescendo a parte inferior do corpo é histericamente demente), mas no geral tudo é projetado para ser cool. E funciona.
Como já destacado anteriormente, a verdadeira joia de Deadpool 2 é, mais uma vez, Reynolds, cuja frenética entrega total ao personagem é o combustível que mantém esse trem louco nos trilhos. Podemos dizer que ele está tendo o momento de sua vida interpretando este personagem, porque seu entusiasmo é palpável e contagiante. Em alguns momentos sua energia faz jus àqueles filmes de um Jim Carrey dos anos 1990, embora ele atue aqui de forma mais suave e charmosa. Após assistir a este longa, a única certeza que temos é que sem Ryan Reynolds esta franquia provavelmente jamais teria visto a luz do dia.
P.S. 1: Destaque para a melhor e mais genial cena pós-créditos de todos os tempos.
P.S. 2: A zoeira ao K-pop com a namorada asiática da Míssil Adolescente Megassônico é ótima!! Cada vez que ela e o Deadpool se cumprimentavam era uma gargalhada.