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Crítica | Tully

A maternidade é algo extremamente questionável, mas irrefutavelmente cansativo. São anos de dedicação, questionamentos, erros e acertos na incessante tentativa de cuidar de outro ser humano. Além, claro, das noites mal dormidas, choros constantes, gastos excessivos e milhões de outras tarefas que por si só já fazem qualquer um tremer na base só de pensar.

Em Tully, novo filme estrelado e produzido pela atriz Charlize Theron, vemos todas essas situações virem à tona quando Marlo, a protagonista, precisa lidar com a fase final da gravidez de seu terceiro filho, seu marido levemente ausente e sempre sobrecarregado com as tarefas do trabalho e todas as consequências vindas no pacote deste cenário caótico. Sua salvação? A jovem e excêntrica babá noturna cujo nome dá o título ao longa.

Tully consegue ser o que Marlo acredita que não dá conta sozinha. Precisa de alguém que cuide do novo bebê no período da noite? Tully faz. Precisa de cupcakes para as crianças levarem para a creche? Tully ajuda. Precisa de alguém que possa ouvir seus desabafos e dar conselhos? Tully é a pessoa ideal para isso. Problemas no casamento? Tully entra em ação. E com a chegada da babá, Marlo tem tempo para dedicar-se ao seu casamento, aos seus filhos e, de quebra, a si mesma. E tamanha mudança gera impactos fortes na personagem principal. Tully é quase como um sonho se tornando realidade, e Marlo tenta desfrutar disso ao máximo.

Atentando-se apenas a esta premissa, pode-se acreditar que Tully é como se fosse uma versão mais recente de Mary Poppins. Mas é ao entrarmos fundo na narrativa que percebemos que, na verdade, o longa é um apelo de todas as mães, com diversas situações características que somente quem é consegue entender. E quem não é, desejar não precisar passar por isso tão cedo.

A narrativa nos conduz através dos diversos dilemas que envolvem a maternidade e a representa como algo bonito, sim, mas também cansativo, privador e desgastante. O filme também abre espaço para questionar o papel da mulher dentro deste cenário. Não é para menos: ainda hoje vemos diversos discursos dedicados a pouparem os pais e deixarem apenas as mães assumirem as responsabilidades dos filhos. E é diante disso que Tully permite-se desconstruir essa idealização e fixar os pés de seus espectadores no chão, a fim de estimular uma grande reflexão em torno disso.

No que responde à parte técnica do filme, Tully nos entrega, de cara, uma fotografia claustrofóbica e caótica – assim como a vida da personagem se encontra naquele momento. Em uma sequência na qual Marlo faz de tudo para acalmar o bebê que não para de chorar dentro do carro, é impossível não ter empatia com a situação da protagonista. Ela está sozinha, cansada, com milhões de problemas para resolver e com um bebê testando os níveis de decibéis que seus ouvidos conseguem alcançar por segundo sem parar. Colocar-se no lugar dela naquele contexto é o mínimo que se espera da audiência.

Quanto ao roteiro, bem, está longe de ser algo inovador. No entanto, a justificativa da resolução, ainda que não tenha sido nenhuma novidade, é plausível e aceitável – principalmente com a relação com a realidade de milhares de mulheres ao redor do mundo. Trata-se de um filme capaz de gerar uma forte identificação em seus espectadores e de levar seus debates e questionamentos para fora da tela também. Não se trata de um grande título, mas certamente não passará despercebido por aqueles que o assistirem.