Nerd de Pijama | Desenhos de ontem e de hoje
Todos nós já fomos crianças algum dia e, talvez, essa tenha sido a época mais feliz de nossas vidas. O que isso quer dizer? Não se tornem adultos esc%&tos em memória àquela criança que acordava cedo todas as manhãs possíveis para ver desenho na TV. Dito isso, passo a acrescentar que, tenha sido você criança nos anos 1980, 1990 ou até mesmo nos anos 2000, a sua percepção de ver o mundo nerd pode e deve mudar conforme o passar do tempo. Aliás, todos os dias são de aprendizados, e uma prova disso para mim hoje foi de eu ainda não ter visto Os Jovens Titãs em Ação. A minha surpresa veio justamente por confundir o desenho com os Jovens Titãs de cinco temporadas produzido anteriormente e com os mesmos traços de Liga da Justiça, que eu via quando não tinha nem dez anos de idade.
Claro, eu também via X-Men: Evolution, Cardcaptor Sakura, Sailor Moon, Batman e Superman – A Série Animada e mais um monte de outros desenhos e animes. Um deles, por sinal, era o Thundercats dos anos 1980, e é sobre isso que vamos sentar com nossos pijamas nesta edição para conversar: os desenhos, o passar do tempo e como lidamos com tudo isso agora, já adultos e adolescentes mais maduros. Para tal, eu convidei a Luísa Ribeiro, lá da Animaction, com seu pijama de gatinhos para adicionar alguns elementos neste lance todo animado.
Muito se foi comentado na internet durante esta última semana sobre a nova adaptação do Cartoon Network do desenho dos anos 1980. Mas eu, Joana Pais, tenho que confessar algo: assisti ultimamente a volta de As Meninas Superpoderosas, Steven Universo (pelo qual me apaixonei perdidamente), Liga da Justiça em Ação (fui ver mesmo achando um lixo até o trailer, mas amei muito) e Ultimate Homem-Aranha. Todos desenhos atuais, com pegadas atuais e para as crianças que, às vezes, nem levantam da cama para pegar seus tablets e entram no YouTube para ver, escolher e se divertir com sua própria programação. E nenhum destes que vejo e gosto decepciona minha criança interna, que amava ver as disputas entre o Logan e o Ciclope, a risada do Coringa se espalhar por uma cena e até mesmo ver qualquer universo animado (como em Caverna do Dragão) ser divido em preto e branco. Um exemplo foi quando o Professor começou a namorar uma mulher latina em As Meninas Superpoderosas e eu adorei ver tal representatividade num desenho de “gente branca”.
Particularmente para mim, Luísa, os desenhos animados em geral foram protagonistas da minha infância e com certeza foram responsáveis por uma parte significativa da minha formação, do que até hoje eu gosto e não gosto e considero bom ou ruim. Cresci assistindo Cartoon Network. Não havia outro canal para mim na televisão. Os meus favoritos, sem sombra de dúvida, eram os animes do quadro Toonami – onde as estrelas de Cardcaptor Sakura, Yu Yu Hakusho, InuYasha e Dragon Ball Z brilhavam com mais intensidade para mim –, além, é claro, dos clássicos Du, Dudu e Edu, A Vaca e o Frango, Johnny Bravo, As Meninas Superpoderosas, O Laboratório de Dexter, Eu Sou o Máximo… Ah… Eu poderia ficar horas aqui só citando esses desenhos maravilhosos ao passo que me delicio com as boas lembranças que eles me trazem.
Mas é melhor parar por aqui para falar de um grande trauma da minha infância: a mudança dos desenhos. Eu, como fã de todas as animações já citadas acima, fiquei extremamente revoltada quando o Cartoon decidiu substituí-las por novos desenhos. No começo, a frequência com a qual eram transmitidos começou a diminuir, até que não passavam mais. Nossa, eu fiquei muito triste. E logo tomei um ranço enorme de desenhos como Mucha Lucha, Meu Amigo da Escola é um Macaco (Caco, Caco) e outros que, se me lembro bem, roubaram os horários de meus amados clássicos. Minha revolta foi tamanha que tomei uma decisão muito drástica na minha vida: parar de assistir o canal. Foi nessa época que comecei a ver o Nickelodeon e, assim, descobri novos desenhos. Dentre eles, os meus favoritos com certeza eram Hey Arnold!, Rocket Power, Jimmy Neutron, Os Padrinhos Mágicos e Avatar (mas, gente, Avatar não é “só” um desenho, Avatar é vida!). Também descobri que havia um mundo de outras séries que não eram animadas. Depois disso, um refrigerante de laranja nunca mais foi o mesmo.
Só que o foco de hoje são as animações e, por isso, não poderei tratar aqui de meu amor por Kenan & Kel e de como me senti confusa por ao mesmo tempo adorar e odiar Drake & Josh (que veio para substituir a primeira). O que gostaria de dizer é que o ser humano é um bicho muito chato que não gosta de mudanças. Atualmente, ao assistir alguns desses desenhos que quando criança eu me recusei a ver, pois estavam “matando” os meus xodós, percebi que perdi a oportunidade de me divertir muito, que perdi a oportunidade de assistir desenhos de qualidade excelente, às vezes muito melhores do que os que eu idolatrava. Posto isso, é de se esperar que quando decidem não retirar, mas sim alterar um desenho que é o xodó de muitos nerds chatos, a coisa fica feia.
Infelizmente não adianta ficar argumentando que a produtora tem o direito de fazer o que quiser, que o desenho vai ser bom… Nada disso adianta, porque essas pessoas não estão interessadas em mudar de opinião, só querem encher o saco dos outros mesmo. Eu não as culpo. Já fui assim. Fiz um fuzuê homérico quando descobri que iriam fazer uma versão chibi de Jovens Titãs. Porque como assim Robin, um dos meus crushes de infância, virou pirralho? Não, eca, que bosta, essa gente não sabe o que está fazendo! Foi o que eu pensei. Luísa tolinha. Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo.
Hoje, Os Jovens Titãs em Ação é o desenho de maior sucesso do Cartoon. As crianças simplesmente adoram. Sim, as crianças. É para esse público que o desenho foi feito, e ele atende muito bem o que os pestinhas de hoje em dia estão procurando. Devo confessar que vi um episódio outro dia e ri para caramba, o que só comprova que eu e muitas outras pessoas estávamos reclamando da mudança sem nem ao menos dar uma chance para o novo. E tem mais: para você que ainda acha que esse e outros remakes são uma bosta, ninguém quer saber sua opinião. Além disso, o desenho antigo está lá para você ver também, seja feliz.
Logo, o que falar dessa nova geração de desenhos maravilhosos que temos atualmente? Sério, a primeira vez que vi O Incrível Mundo de Gumball fiquei positivamente chocada com a quantidade de referências à cultura pop e com a maturidade do enredo. Não acreditei que era um desenho do Cartoon. Acho isso lindo demais. A importância do surgimento de desenhos mais maduros é enorme. Digo isso pois tomo como exemplo uma prima minha, que atualmente está com 15 anos. Acho que em um mês eu vejo mais desenhos do que ela já viu em sua vida toda.
Isso quer dizer que “Goku”, “Pikachu” e até mesmo “Timão e Pumba” – pasmem – são palavras que para ela não possuem nenhum significado especial. Os desenhos animados e filmes da Disney não marcaram sua infância. Já as séries do Disney Channel sim. Isso é assustador para mim. Sinto-me meio ET perto dela, ou talvez mais criança. E agora, com essa leva incrível de desenhos: Gumball, Apenas um Show, Hora de Aventura, Steven Universo, Titio Avô, Gravity Falls e tantos outros, tenho a forte impressão de que as atuais crianças vão crescer reservando um lugar especial em seus corações para essas histórias, tornando-se, assim como nós, jovens adultos nostálgicos que farão de tudo para proteger e honrar as memórias de seus desenhos favoritos. Parece exagero ou até meio brega, mas é importante manter a tradição das animações. Elas nos oferecem universos distintos onde tudo é possível, nos ensinam muito, falam da vida de forma madura, mais do que esperamos que fale, nos divertem e nos ajudam a crescer.
Nesta última semana, eu Jo, dei uma chance finalmente para o famoso Rick and Morty e, assim como vi o piloto de Hora da Aventura, minha mente foi à loucura! Afinal, como tanta coisa maluca junta faz tanto sentido e fica ali, bem disponível para a nova geração de crianças e adolescentes ver, rever e entender de maneiras completamente diferentes de nós, adultos? Claro que ambas não foram feitas para crianças de três a quatro anos de idade, porém, essas mesmas crianças podem e vão acessar o YouTube assim que acordarem para ver vlogs, episódios antigos de seus personagens favoritos e propaganda de brinquedos caríssimos. Não tem como fechar os olhos para o que está na internet, em qualquer lugar a criança poderá encontrar. Sabe quando o Mestre dos Magos aparecia DO NADA nas cenas de Caverna do Dragão? Justamente este é o click que as novas gerações dão para ver seja As Meninas Superpoderosas, seja Steven Universo, seja um Simpsons da vida.
O fato de tirarmos alguém de uma zona de conforto, principalmente após anos de cultura instalada e arraigada, é revoltante, como foi o que aconteceu aqui no Brasil com a finada TV Globinho. Contudo, se adaptar para alcançar uma nova geração de fãs nem sempre é tão ruim quanto parece. Vide os novos filmes de Star Wars e Star Trek (obrigada, senhor J.J. Abrams). Só que sempre vai surgir uma horda enorme de fãs extremistas querendo acabar com o barato novo na área. Vemos isso quando alguma tecnologia nova é lançada e, bem, isso acontece gradualmente com o passar dos meses. Contudo, se olharmos bem para as nossas crianças interiores, veremos que cada uma delas necessita de fato descobrir algo novo no mundo, nem que seja em outro formato, como foi o meu caso com Liga da Justiça em Ação. E por ela eu peço humildemente: deixem as crianças de hoje em dia se divertirem em paz! Seja com Jovens Titãs, seja com Thundercats, seja lá com que animação for.
Criança precisa se divertir! E se por acaso o seu filho(a) curtir tanto a versão atual da geração dele, por que não o introduzir ao seu mundo nerd? Aliás, adoro pais que comentam sobre quando Star Wars foi lançado nos cinemas, que guardam sua coleção de gibis dentro de casa e passam isso adiante. Esta é a hora de aceitar, por mais que doa, que novos nerds estão surgindo, então deixe-os livres para escolher os desenhos, dê risadas com eles e depois ofereça um mundo onde o amor pela cultua pop reine. Estamos aqui para isso também, afinal de contas!
E um Feliz Dia da Toalha/Orgulho Nerd, meninos e meninas! Afinal, não é só no dia 25 de maio que abrimos nossos livros, nossas grades de séries e nossos games favoritos!