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Crítica | Acrimônia

Má vontade; aspereza, azedume; modo de agir de quem é indelicado. Este é o significado da palavra Acrimônia, que também carrega o título do novo filme de Tyler Perry estrelado por Taraji P. Henson. Na trama, Taraji vive a personagem Melinda, uma mulher que logo nos primeiros minutos de tela está em uma sessão de terapia a pedido de um juiz para tratar a sua raiva e seus comportamentos extremamente agressivos.

Para entendê-la, nós, espectadores, ficamos a partir do ponto de vista da terapeuta da protagonista, que faz as indagações também questionadas pelo público sobre o que aquela mulher fez de tão grave para estar naquela sala e naquela situação. A partir disso, viajamos no tempo para entender a história por trás do pesadelo em que Melinda afirma ter vivenciado com seu ex-marido, Robert, um engenheiro que desde novo estudava um projeto de bateria capaz de mudar o mercado de energia elétrica de forma radical.

Dissolvendo-se como um clássico clichê, Acrimônia se desenvolve na antiga fórmula de narrador-personagem e flashbacks dos ocorridos, divididos sutilmente através de atos separados por outros termos linguísticos relacionados ao comportamento da personagem em cada ponto daquela situação. E até que, no começo, a fórmula aplicada por Tyler funciona. E embora as atuações e os efeitos de Chroma Key deixem muito a desejar, a narrativa prende o público a partir da expectativa de tentar entender o que causou todo aquele reboliço.

Com a história contada apenas sob a perspectiva de Melinda, no começo é fácil designar um culpado. Robert realmente se aproveitou da protagonista desde quando se conheceram, ainda durante a faculdade, até seus últimos dias juntos como casal. Por outro lado, a personagem de Taraji também tinha seus momentos. Quase como uma inspiração da canção de Taylor Swift, “Blank Space“, Melinda era literalmente um pesadelo vestido como um sonho bom – principalmente quando se tratava das puladas de cerca de Robert.

Agora, mulher feita e com a conta bancária no vermelho após anos de investimento em diversos “mimos” para o marido, sua respectiva pesquisa e seu ego, em troca de inúmeras promessas de uma vida de luxo, Melinda quer vingança. Isso porque após Robert conseguir, finalmente, vender seu projeto e noivar-se de outra mulher, a protagonista se vê num prejuízo financeiro – no qual todo seu investimento foi em vão – e emocional, uma vez que sua relação com Robert era tão intensa, tão cheia de promessas, tão cheia de esperanças, expectativas e ciúmes que… bem, tornou-se doentia.

E é caminhando ao longo da narrativa que o espectador se vê em uma encruzilhada onde não há mais bons e maus. Robert foi uma pessoa extremamente tóxica para Melinda. E ela, por sua vez, também não é nenhuma santa. E a família dela, sempre ao seu redor e apontando o dedo a todo custo, também ajudou a moldar a visão que a protagonista tinha de seu próprio marido. Como resultado disso, o roteiro segue para um clímax completamente inesperado, sem sentido, tosco e mal feito.

O final da trama detona todo o pouco de valor que Acrimônia, com muito suor, vinha tentando construir ao longo de suas duas horas de duração. Por mais que em alguns momentos o filme consiga se reerguer e captar a atenção da audiência, a resolução da narrativa é algo difícil de engolir. Assim, o espectador sai da sala de cinema apenas tentando capturar o que foi pior: plot nonsense, o texto mal feito ou os efeitos de qualidade baixíssima.

Sendo mais um exemplo dos adeptos à escola de edição de promocionais, em que os trailers são melhores do que o filme completo em si, a trama de Tyler Perry não surpreende. O longa se lança como um drama envolto numa narrativa de vingança obsessiva tão exagerada e mal construída que só seria pior se, ao invés de Acrimônia, carregasse como título a palavra “Ranço”.