Crítica | A Freira
Uma das estreias mais aguardadas de 2018 é, certamente, o novo longa da franquia Invocação do Mal, intitulado A Freira. Seguindo o exemplo de Annabelle, o spin-off chega aos cinemas para expandir o universo da saga, trazendo a origem de mais uma das aparições de Valak, a entidade demoníaca já conhecida pelos demonologistas Ed e Lorraine Warren.
Em A Freira, acompanhamos uma investigação do Padre Burke e da noviça Irene em torno de um curioso caso de suicídio de uma irmã em um convento na Romênia. Durante a viagem, os dois têm sua fé testada ao perceber que o caso não tratava-se apenas do que a igreja considera um grande pecado, mas, sim, de algo relacionado a uma criatura sobrenatural e perigosa.
Com uma premissa instigante, mas sob o comando do diretor Corin Hardy, nos deparamos com um roteiro bem simples. A receita de bolo já conhecida e sustentada pelo público durante anos é a chave do longa. Arriscando uns jumpscares aqui e ali, A Freira espera para ganhar o público mais próximo ao embate final entre os protagonistas e a entidade. E aos que acompanham a franquia há mais tempo e esperavam nele as respostas para algumas das perguntas geradas nos filmes anteriores, certamente ainda não as terão por completo. E isso se deve muito também ao fato de se tratar de um filme altamente comercial.
The Conjuring se tornou uma das maiores franquias do gênero lançadas recentemente na qual cada novo título sustenta inúmeras ações promocionais e divulgações além das bilheterias. Exigir todas as respostas de mão beijada em um único filme chega a ser um insulto à essa estratégia, visto que quanto menos respostas forem dadas, mais filmes serão feitos em torno da expectativa das mesmas, o que rende mais bilheterias, mais arrecadações e blá blá blá. É matemática simples e seria bastante ingenuidade esperar algo além disso nesse contexto.
Então, não. O filme não traz uma narrativa inovadora e explicativa. Ele traz o que vendeu: um filme com sustos, entidades bizarras e trilhas cautelosamente inseridas na trama – principalmente nas derrapadas do diretor em algumas de suas tentativas de jumpscares. No entanto, afirmar que o longa não assusta é complicado. O gênero de terror já é muito controverso por conta da dificuldade em causar medo e aterrorizar o público. Afinal, não é todo mundo que se assusta fácil e não é todo mundo que gosta dessa premissa. E por mais que ainda caia um pouco para o clichê, A Freira possui diversos elementos que conduzem o espectador ao medo de forma eficaz.
A direção de arte do longa já é um dos pontos principais por conta disso. A atmosfera de tensão criada em torno da abadia onde se passa a história consegue quase transformá-la em outro personagem. A iluminação e os cenários são bem construídos, além da transição para as cenas no local, e já causam uma certa inquietude em quem assiste. Ainda mais quando unidos à já citada ótima inserção das trilhas e desenho de som, que certamente são um trunfo do longa e possuem um grande peso na narrativa como um todo.
Com relação ao elenco, a cena é toda de Jonas Bloquet e seu divertido Frenchie. Na verdade, o personagem foi um dos principais acertos do longa, visto que sua inserção na narrativa – ainda que de maneira cômica – não se desvincula de forma radical do contexto da trama. O personagem arranca risadas dos espectadores deixando-os alerta do perigo que ainda está ali. Taissa Farmiga na pele da noviça Irene também foi uma grata escolha. E o empenho de Farmiga no longa foi forte o suficiente para ofuscar o já não muito expressivo Padre Burke de Demián Bichir, que não faz a menor questão de criar uma empatia com a audiência.
Por mais que títulos como este venham sempre carregados por propagandas e excessivas divulgações promocionais – e as consequentes expectativas do público -, poucos conseguem cumprir, de fato, aquilo que prometeram. E ainda que o roteiro não saia muito da linha explorada à exaustão no gênero, A Freira consegue sustentar sua narrativa na inquietude que causa em seu público.
A avaliação no ranking comparativo com os outros filmes da franquia Invocação do Mal fica a critério da opinião de cada espectador, mas uma coisa é certa: pelo menos no que diz respeito à presença de Valak, sangue de Jesus tem poder (nesse caso, literalmente).