Falando Sobre… | Animes que se destacaram na Winter Season 2017
A programação de animes no Japão lembra muito a forma como são lançadas as séries norte-americanas: os lançamentos são divididos em temporadas, e a cada nova temporada nós temos estreias que lutam para conseguir se renovar e retornos de histórias que fizeram sucesso. Existe a diferença que para os animes existem quatro temporadas por ano, uma para cada estação, enquanto que para as produções ocidentais só temos duas. E se nós aqui do LoGGado sempre falamos sobre as séries, por que não usar um pouquinho do nosso tempo comentando outra forma de entretenimento “parecida”?
Este Falando Sobre… é uma grande lista com tudo que a Winter Season 2017 trouxe de mais marcante para o cenário dos animes. Comentarei as melhores estreias, os retornos e continuações que mais surpreenderam, e até mesmo aquelas decepções que fizeram a gente perder tempo assistindo. É importante lembrar, no entanto, que essa lista de melhores e piores é totalmente baseada na minha opinião e naquilo que tive tempo de assistir desde o começo da temporada até aqui (obviamente não foi possível assistir todos os títulos). Sinta-se livre para discordar e colocar nos comentários o que você acha sobre a lista e a temporada em si.
Melhores Estreias
Logo antes do início da temporada era difícil ficar muito otimista com as estreias. Muitos títulos pareciam interessantes, mas nenhum parecia incrível. Além disso, o número de clichês presentes nas sinopses era bem desanimador. Três meses depois, no entanto, os resultados surpreenderam mesmo os otimistas. De fato, não tivemos nenhum anime fantástico, faltou um título como Re:Zero, One Punch Man e Yuri!!! on ICE, mas a quantidade de bons títulos foi completamente inesperada, de forma que criar um top 3 foi até difícil. Youjo Senki e Demi-chan wa Kataritai merecem ser mencionados e alguns outros com certeza também se destacaram, mas no final são os três abaixo que merecem ser assistidos, caso você tenha pouco tempo livre e queira adicionar algo novo na sua grade.
Miss Kobayashi’s Dragon Maid foi a maior surpresa da temporada. A premissa levemente absurda do anime, uma dragão que vira empregada doméstica de uma mulher solteira depois que as duas ficaram bêbadas juntas, foi o bastante para gerar curiosidade, mas foi a qualidade do resultado que fez o público continuar assistindo este que foi o melhor slice of life da temporada. Alguns momentos cômicos divertem o público e justificam a classificação como comédia, mas é o drama extremamente leve e inteligente que diferencia esse anime dos demais. O anime é todo permeado pelo “romance” entre as duas personagens principais (e eu coloco entre aspas porque nada é oficial entre elas), mas sempre de forma interessante, cativando o público e nos deixando mais interessados. O drama é leve porque mesmo tratando de temas pesados (rejeição dos pais e da sociedade sobre o que não é considerado normal) o uso da metáfora do dragão para representar o “diferente” na sociedade funciona muito bem e torna a história acessível para todos os públicos. Ótimos personagens, um bom roteiro e uma das aberturas mais divertidas da temporada tornam Miss Kobayashi’s Dragon Maid uma ótima escolha para quem quer um anime completo, capaz de te emocionar, fazer rir e dar a impressão de que aqueles 20 minutos passaram como se fossem dois.
Little Witch Academia lutou com unhas e dentes para conseguir um lugar na lista de melhores da temporada, e é bem fácil de entender o motivo pelo qual conseguiu tal feito. O anime pega todas as características que os animes de fantasia e magia têm de melhor e as apresenta de modo que parece novo. A comédia não é exagerada, mas funciona bem, e quando menos se espera as personagens são extremamente cativantes e todos nós podemos olhar no passado e ver um pouco de como nós éramos na infância representado em cada uma delas. A animação, à primeira vista, é simples, mas extremamente bem feita e a história acaba convencendo, uma vez que apresenta todos os elementos citados anteriormente. Little Witch Academia é quase que um retorno para a infância, é ver um anime que faria com que nós, quando mais jovens, ficássemos loucos de interesse e, ao mesmo tempo, ele funciona com o público mais velho porque a magia dele vai muito além dos poderes das personagens. É tudo o que gostamos de ver, mas sem parecer repetitivo ou clichê. Outros animes da temporada poderiam seguir esse exemplo.
Scum’s Wish vai pelo caminho contrário dos outros integrantes da lista e passa longe de ser um anime leve e divertido que você pode maratonar sem nem mesmo perceber. Esse drama romântico é extremamente pesado, com uma história mais complexa do que a sinopse dava a entender e com personagens mais complexos ainda. Não existe o mocinho e o vilão, aquele que só faz o bem e aquele que é malvado apenas por diversão. Cada personagem tem uma motivação, cada um age da forma como o faz por um motivo, seja um trauma ou um desejo, mas ninguém aqui está isento de fazer coisas não muito aceitáveis para os olhos dos outros. Pode-se dizer que o anime chama a atenção porque lembra a realidade, os personagens do colegial não possuem a inteligência emocional e a inocência de uma criança de nove anos como é tão comum ver por aí. As inseguranças, dúvidas e ações questionáveis da adolescência são representadas de modo real (ou pelo menos mais real que o de costume para essa forma de entretenimento) e tudo isso está ambientado em ótimos cenários, com uma fotografia muito boa que reveza entre closes nos personagens e imagens de fundo muito bem feitas. Scum’s Wish é um excelente drama e uma boa pedida para quem quer algo mais pesado e mais real, com personagens complexos e interessantes.
Melhores Retornos ou Continuações
Se no que diz respeito às estreias faltou algo grandioso, é impossível falar o mesmo sobre os retornos e continuações desta temporada. Vários animes ótimos voltaram dos seus hiatos, isso sem contar as ótimas continuações, como March Comes in Like a Lion e Twin Star Exorcists. Com muita comédia, drama, ação e aventura, os animes listados abaixo fizeram com que a Winter Season 2017 fosse excepcional e ainda tivesse uma boa dose de nostalgia.
É difícil encontrar algum fã de animes nascido na década de 1990 que não goste de Digimon, especialmente da primeira temporada. O anime, mesmo sendo dedicado para um público mais jovem, tinha diversos elementos fantásticos e apresentava uma aventura incrível que todos gostariam de viver. Ao mesmo tempo, entretanto, o drama estava muito presente, e ao longo da história nós rimos, ficamos tristes, felizes e até choramos acompanhando os digi-escolhidos. Estou me referindo à primeira temporada de Digimon, mas tudo o que foi dito também vale para os episódios de Digimon tri que foram ao ar nesta temporada. É verdade que isso conta como um filme, mas como a única forma de assistir oficialmente era pelo Crunchyroll, que dividiu tudo em episódios, este anime acabou entrando na lista. Ao longo de todos os episódios, o que acompanhamos neste anime é a mistura de todos esses elementos com um roteiro mais adulto, e a qualidade nessa parte da história em especial foi surpreendente. Mais drama, mais diálogos bem escritos e um cliffhanger surpreendente fizeram de Digimon Adventure tri: Soushitsu um dos melhores retornos da temporada de inverno.
Blue Exorcist é um caso estranho. Essa temporada foi lançada seis anos após a primeira e, além disso, ela ignora grande parte dos episódios da temporada anterior. Poderia ter sido um problema, poderia ter dado muito errado, mas não foi o que aconteceu. O enredo foi muito interessante e seu desenvolvimento foi bem feito, de modo que não só contou bem a história como também deixou espaço para que os personagens fossem desenvolvidos. As questões emocionais e os relacionamentos explorados, assim como uma quantidade um pouco menor de ação, fizeram com essa temporada tivesse uma cara mais adulta do que a anterior, e esse clima caiu bem para Blue Exorcist.
KonoSuba: God’s Blessing on This Wonderful World! foi, provavelmente, a melhor comédia do ano passado, e agora em 2017 o anime voltou tentando repetir a façanha. É difícil encontrar bons animes de comédia, ou eles são apenas divertidos e se transformam em slice of life (o que não é um problema), ou a barreira linguística que impossibilita traduções literais e prejudica muitas piadas acaba destruindo o roteiro. KonoSuba, entretanto, não cai em nenhum desses casos e é absolutamente hilário mesmo para quem depende de legenda. As expressões exageradas, as situações absurdas, os diálogos completamente insanos… Tudo que marcou a série ano passado voltou com força total na segunda temporada, reservando para o anime um lugar na lista dos melhores.
Maiores Decepções
Mesmo tendo sido melhor do que o esperado, ainda houve alguns tropeções entre as estreias desta temporada. Alguns animes prometiam bastante, mas a falta de originalidade acabou custando caro. Com muitos clichês, personagens ruins, roteiros fracos e até mesmo animações desastrosas, a Winter Season 2017 ficou um pouquinho pior por causa dos listados abaixo.
São poucos aqueles que acompanharam essa temporada e que não colocariam Hand Shakers como um dos piores, ou até mesmo o pior, anime da Winter Season. A premissa da série era inovar no aspecto visual trazendo algo nunca antes visto, ao mesmo tempo em que o enredo inesperado (ter que lutar de mãos dadas) deveria surpreender o público. Sobre a animação: nada igual existiu antes de Hand Shakers, e eu espero sinceramente que algo parecido nunca seja visto novamente. O anime é uma confusão visual enorme, com diferentes aspectos da animação funcionando em ritmos diferentes, design de interior e iluminação sem nenhum sentido e personagens toscos (destaque para a garota com peitos que parecem balões de água). E a história não é muito melhor, começa sem nenhum sentido, sem uma premissa e com personagens pouco cativantes. Obedecer a regra dos três episódios com esse anime foi um sofrimento. Ele entra na lista mesmo sem que tudo tenha sido assistido, porque é praticamente impossível se recuperar do show de horrores que é Hand Shakers.
Masamune-kun no Revenge, por outro lado, está longe de ser unanimidade, e talvez até seja meio polêmico colocá-lo na lista dos piores. Todos os elementos de uma comédia romântica de sucesso estão presentes, várias características de histórias boas, como Toradora!, e famosas, como Nisekoi, aparecem aqui e conseguem conquistar fãs. Mas uma premissa que funciona na teoria de nada adianta se a execução não for boa. O personagem principal é absolutamente desprezível nos primeiros episódios, e até mesmo o primeiro dos interesses amorosos tem poucas características positivas. A ideia “inovadora” de fazer com que a aproximação comece por causa de uma vingança mais parece choro exagerado de um moleque mimado que não sabe ouvir “não” do que qualquer outra coisa.
Aliás, falando em garoto que não sabe ouvir “não”, ainda tivemos uma cena ridícula onde um menino x que recebeu um fora da Aki (o alvo da vingança de Masamune) tentou atacá-la com uma tesoura. Ele acerta o Masamune, que a protegeu, e no dia seguinte pede desculpas para ELE e tudo fica bem. Claro, vamos ignorar o fato de que o figurante descontrolado tentou furar o olho dela com a tesoura porque foi o cara que saiu com um cortezinho, não é como se ela tivesse sido o alvo da agressão. E o resto do roteiro não é muito melhor: a evolução previsível da história, incluindo o aparecimento de uma “garota misteriosa do passado”, não ajuda muito a interessar alguém que já viu pelo menos duas outras comédias românticas, e tudo acaba ficando chato. Sem nada novo ou interessante, Masamune-kun no Revenge é um clichê maquiado de inovação que só serve para exemplificar a importância de discussões entre os fãs de anime sobre temas como feminismo e violência contra a mulher.
Chain Chronicle: Haecceitas no Hikari tem bem menos problemas que os outros da lista. Aliás, esse anime possui apenas um erro: clichês. Não é como se a série apresentasse um ou outro fator que já vimos antes e isso foi ficando chato, aqui a situação é pior. O anime inteiro, desde o mundo onde a história se passa, o enredo e os personagens, é um enorme clichê. Temos o Seiya personagem principal clássico, que mesmo tendo um relacionamento sério com o chão continua levantando e dando seu melhor para derrotar o inimigo, uma série de personagens de apoio com designs ótimos que escondem arquétipos desgastados e sem originalidade nenhuma e todo um mundo fantástico que já foi visto em outras 200 histórias. Basear animes em jogos é complicado, se o material base tiver história fraca fica difícil de salvar a produção, uma vez que ela independe da qualidade do jogo em si. A forma como resolveram contar a história, começando no meio de uma grande batalha contra o inimigo principal, definitivamente não ajuda, mas com tão pouca originalidade no enredo esse fator acaba sendo irrelevante.
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E para você, quais foram os destaques positivos e negativos? Concorda com a lista? Só opinar nos comentários. Agora começa a temporada de primavera para os animes, e pode ter certeza que quando ela estiver acabando o LoGGado trará um Falando Sobre… para comentar o que teve de melhor (e de pior também). Até lá!