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Sense8 | A segunda temporada

Depois de um ano e nove meses de muito sofrimento e angústia, nós recebemos com o maior carinho do mundo a segunda temporada de Sense8 apenas para ficarmos mais dois aninhos sem episódios novos. E, acima de tudo, recebermos a notícia linda de que se a série for renovada oficialmente, ganhará sua última temporada… DAQUI A DOIS ANOS NOVAMENTE! Motivos como o custo da série, que é filmada em vários lugares ao redor do mundo, e do casting ainda não ter confirmado presença em 100%, estão sendo discutidos pela Netflix, Lana Wachowski e o produtor Roberto Malerba. E claro, a complexidade de criação deste mundo que atualmente está apenas nas mãos de uma Wachowski. Dito isso, vamos começar a falar de: 1 – o lindo especial de Natal que ganhamos no final do ano passado; e 2 – o resto desta temporada maravilhosa.

Começamos a temporada com a lindeza do especial de Natal, que durou duas horinhas e ainda foi pouco. E muita coisa acontece no mesmo já para nos situar sobre o que virá depois para nossos sensates. Will e Riley passam o episódio inteiro hora bancando o casal fofo, hora fugindo horrores de Whispers para que ele não os localize. Ou seja, Will passa mais tempo drogado do que consciente, fator este que é explorado durante a temporada como limite determinante não só da passividade do personagem para a segurança dos outros (que sempre ficou muito em uma zona de conforto, até a reviravolta no final da temporada passada), mas também para motivo desafiador que vai determinar a ação do final da temporada.

Ainda no especial de Natal vemos a tal cena da orgia, Toby Onwumere como novo Chapeus e toda a nova situação que envolve de Wolfgang à Sun, passando por Nomi. Creio eu que este especial é um bom resumo do que é a temporada como um todo: Nomi fugitiva, Sun correndo risco de morte na prisão, Kala dividida entre Wolfie e o marido; e não por menos Chapeus e seu busão como novo símbolo de coragem para a sua comunidade.

Se formos parar para pensar, a temporada se resume nisso e em dois outros assuntos: o significado do homo sensorium – os sensates – e a saída de armário do Lito. Este último por simplesmente mostrar que o México é um país homofóbico e que sua população ainda não está preparada para isso, e, por outro lado, o Brasil como símbolo de aceitação do personagem, que tem sua vida completamente mudada com este plot.

No meio termo temos Hollywood, onde todos são aceitos como são. Ou não. Sinceramente, foi legal ver toda a cena filmada na Gay Pride de São Paulo, em 2016, foi bom mostrar nossa parte de contribuição para a série que tanto amamos – afinal, é uma série bem Brasil com tantas diferenças. Porém, sabemos que a realidade do nosso país tropical é outra, né mesmo, mores?

Deixando essa questão um pouco de lado, vemos que Lito foi para Hollywood, é aceito pela sua mãe e… ainda consegue enrolar bem como ator para ajudar na hora da ação dos sensates. O que foi ele gritando no meio do museu de Londres e preparando um drink na Coreia? Acredito que a história do personagem ainda consegue impactar os outros de muitas formas diferentes, mais até mesmo do que a Riley, por exemplo, que fica ali só cuidando do Will e aparece à Kala para encorajar o romance com o alemão.

Sobre o homo sensorium, que é uma versão do homo sapiens que se comunica sem palavras, bem, pessoalmente agradeci pela explicação. Agradeci também pela curiosidade de Normanita para entender o que de fato são os sensate e, claro, pela explosão na minha cabeça ao ver que existe uma intranet entre não sei quantos clusters ao redor do mundo, onde todos têm tanto medo de Whispers quanto o cluster de Will e Riley.

Aproveitando-se deste plot, Wolfgang se envolve com uma ruiva de outro cluster do mal que trabalha para a empresa de Whispers, e o melhor disso tudo é ver nossos amiguinhos lutando contra a pi#$%ha. Como fã, foi ótimo ganhar mais conhecimento sobre o assunto, ver a coisa acontecendo (a mistura de clusters diferentes) e até que ponto fomos nesta temporada com o fato de que, além do que está acontecendo nesse bolo de gente, pode-se envolver o passado dos nossos personagens (Will criança) e pessoas mortas nisso (Angelica morta e sempre presente).

Desde a temporada anterior eu não quis implicar muito com o conceito dos sensate. Aceitei e fui na coragem ver a série. Até que finalizamos a primeira temporada com o nascimento dolorido de Riley e Angelica ainda aparecer para nós após ter atirado contra sua própria cabeça. Agora vimos que Jonas também dá continuidade ao legado, assim como conhecemos o cluster dos mesmos num grande envolvimento de presente e passado. Este cluster que começou os estudos científicos até um probleminha chamado Whispers e aliados acontecer (criando a BPO – Biologic Preservation Organization).

Bem, entender do assunto é sempre bom, mas vamos combinar uma coisa? Chamar o público de besta é outra, pelo simples fato de que: se todos têm medo dessa empresa megaevil que caça os sensorium, por que só o cluster do Will tem coragem de enfrentá-los?… Numa cena de um minuto onde vimos milhões de sensorium e só os filhos da Angelica tiveram a coragem de ir lá e bater na cara do Whispers e dizer: “Acha que tá nos caçando? Estamos indo atrás de você!”. Até é mencionado uma possível tentativa por Lila (a ruiva que se envolve com Wolfgang), e segundo a mesma, todos que tentaram, falharam e acabaram se unindo à BPO, infelizmente… Bem, isso nada mais é do que dizer: “Nossa, eles são diferentes dos outros clusters porque conseguiram…”. Este é um dos melhores pontos e um dos piores que a temporada apresentou, este impasse do que será feito com BPO vs sensates.

De fato, fazer com que o cluster de Nomi e Lito se destaque é uma coisa, mas essa desculpa é muito fraca em questões de roteiro. Eles já se destacam por outros motivos, como serem filhos do Jonas e da Angelica (que são o início da BPO), serem o cluster que nos introduz a este mundo e não se entregarem de cara à BPO – que hoje é uma empresa corrupta e totalmente diferente do que seus fundadores criaram no conceito, já que eles caçam os sensorium para fins nada legais. Ainda que existam pessoas lá de dentro que acreditam no sonho inicial da empresa, como vimos nesta temporada…

Das coisas boas que iremos sentir falta nesses dois anos: Normanita hackeando tudo e sendo o casal mais fofo da série, casem logo meninas! Sun sendo a asiática shaolin de sempre e com esse coração lindo (amei a sequência de perseguição em homenagem à Kill Bill), Lito dando piti (é muito melhor do que outras pessoas, tipo Riley, que só ficou relevante depois de entrar em contato com outros sensates, mas passou bem apagada de novo) e não podia deixar a coisa mais polêmica por último: as cenas de… conexão das crias da Angelica. Eu sinceramente sempre torci para que todos se encontrassem pessoalmente, o que rolou apenas no finalzinho do último episódio, e agora sim meu sonho de eles construírem uma cabana própria vai se realizar (ou não). Afinal, é tudo sobre a cabana no final dessa delícia e o que rola lá dentro, como vimos nas cenas de visita ao passado e com Nomi na floresta.

P.S.: O desenvolvimento de Chapeus e Kala foi bastante lindo de se ver durante a temporada inteira e do que nos foi entregue na temporada anterior. Ele, como novo símbolo de esperança para a situação precária do mundo que vive, mostrando que sua simplicidade e sonho podem alcançar tanto as pessoas que ele realmente vira o símbolo de Van Damme de coragem para enfrentar as misérias da África. Mas será que ele vai desistir mesmo da política? Espero que não, ainda tem muita gente que sofre pela falta de água pelo mundo.

Já Kala saiu de sua zona de conforto mesmo ao se jogar no meio da ação, enfrentar o marido, seja pelo seu corpo, seja pela ciência em que ela tanto acredita, e ainda mais: ter a coragem de ir atrás do Wolfgang mesmo ele sendo um gângster. Gostei bastante de ver a atitude dela nesta temporada e espero que continue assim, afinal temos que quebrar com alguns rótulos que foram apresentados pela personagem ao longo de alguns episódios.