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The Good Doctor | Primeiras impressões da nova série de Freddie Highmore

Dramas médicos sempre fizeram o gosto do público. Não é à toa que séries como Chicago Med, House, ER e, claro, a infinita Grey’s Anatomy são sucessos até hoje – em alguns casos, mesmo depois de finalizadas. A questão é que não dá para negar que é interessante acompanhar rotinas hospitalares, além dos dramas paralelos sobre a vida dos médicos fora das salas de cirurgia. E a nova aposta da ABC estrelada por Freddie Highmore, intitulada The Good Doctor, está chegando para tentar entrar nesta lista também.

A série, inspirada em um drama sul-coreano, é desenvolvida por Daniel Dae Kim (Lost) e David Shore, criador da icônica série médica supracitada, House. Em The Good Doctor, Freddie é Dr. Shaun Murphy, um cirurgião diagnosticado com autismo e savantismo. Durante o episódio piloto, Shaun está sob avaliação do conselho médico do San Jose St. Bonaventure que, por conta disso, questiona a decisão do Dr. Glassman (Richard Schiff), presidente do hospital, de contratá-lo. Nesse meio tempo, Murphy presencia um acidente que acaba se tornando o principal caso dos médicos no episódio – e peça-chave para o veredito do conselho.

O ocorrido também serve para nos apresentar aos outros personagens da trama. Dentre eles, Claire (Antonia Thomas), cirurgiã que a todo tempo precisa provar sua capacidade ao seu chefe, Dr. Neil Melendez (Nicholas Gonzalez). Contudo, o piloto não foi o suficiente para contextualizá-los aos público. Essa seria uma jogada inteligente, se a série tivesse uma premissa não vista antes. Porém, reproduzir um gênero feito até a exaustão dificulta ainda mais a tentativa de criar a expectativa de algo novo. E isso pode fazer com que os espectadores que estão acostumados com a narrativa médica já saibam o que esperar.

The Good Doctor também usufrui das técnicas que fizeram com que dramas hospitalares fossem tão adorados pela audiência. Conflitos internos, problemas pessoais dos médicos e as clássicas escapadinhas para relacionamentos dentro do ambiente de trabalho compõem a narrativa do drama, ainda que de forma mais solta e sutil.

Embora a série saiba captar e usar os elementos citados acima, ela também conta com características próprias. Apesar da síndrome de Shaun se apresentar através de diferentes níveis, uma das principais características do autismo é o comprometimento nas interações sociais. E esse traço se manifesta em diversos momentos do episódio, sendo bem reforçados pela ótima atuação de Freddie Highmore. Um exemplo é quando o personagem faz uma longa pausa ao ter que justificar para a equipe do conselho o motivo pelo qual decidiu ser um cirurgião – o que gera um breve desconforto entre os presentes.

Características como repetição, o hábito de empilhar objetos e a dificuldade de Murphy de conseguir olhar nos olhos da pessoa com quem está falando são exploradas na construção do personagem. O autismo também é material para as cenas de flashback. Em muitos momentos, vemos que o contexto nunca esteve a favor do médico. Desde cedo ele sofreu abusos em casa e na escola por conta da sua síndrome, sendo sempre protegido pelo seu irmão mais novo.

Outro atributo bem utilizado na trama é a forma com que a série põe a audiência na perspectiva de Shaun. Como o personagem tem memória fotográfica, nos momentos em que ele pensa sobre a técnica médica a ser exercitada nos pacientes, anotações e imagens do corpo humano, esse elementos aparecem na tela para que o espectador consiga seguir seu raciocínio. Embora alguns possam interpretar esse aspecto como uma forma de subestimar o público, a ideia que também pode ser passada é a de imersão na mente do médico.

Por fim, The Good Doctor tem ótimos elementos que dão a entender que serão melhor explorados ao longo da trama. Mas seria ingênuo afirmar que a série tem porte para se tornar uma referência do gênero, pelo menos por enquanto. Principalmente porque há outras que estão intactas no topo há anos. Contudo, menosprezá-la seria um tanto quanto equivocado.

The Good Doctor certamente não é o melhor seriado do ano e de longe não entrega nada inédito. Mas, ainda assim, assisti-lo não será uma perda de tempo. Especialmente porque sua primeira temporada terá poucos episódios, o que pode ser mais do que suficiente para contar uma boa história sem perder os eixos e, talvez, deixar um gosto de “quero mais” em seu público.