American Horror Story: Cult | 7×06 – Mid-Western Assassin
Com três episódios que só podem ser definidos como no mínimo espetaculares, Cult conseguiu criar uma mitologia própria, cheia de relevâncias sociais e que felizmente não faz feio aos melhores anos da história de American Horror Story. O lado trágico aqui é que Mid-Western Assassin foi filmado meses antes do fatídico ataque em Las Vegas e já de cara conseguimos ter um vislumbre do horror que aquelas pessoas devem ter enfrentado durante o show. O tiroteio que abre o episódio pode até não levantar críticas mais diretas ao livre porte de armas nos Estados Unidos, mas se mostra como consequência máxima da política do medo que se instalou pelo mundo desde que Trump e forças reacionárias passaram a conquistar mais e mais força ao redor do globo.
Depois de passarmos duas semanas com um merecido espaço para Kai e suas ideias envolvendo o culto, é chegada a hora de encararmos como Ally está disposta a lidar com as informações que Meadow largou em seu colo. Fiquei feliz que o roteiro não optou por deixar a personagem cair no vórtice de loucura e reações exageradas que nos aborreceu lá no começo da temporada. Ao pensar em Oz, Ally arrisca tudo e vai ajudar Meadow. A dupla de fugitivas foi garantia de divertidas tiradas, com Leslie Grossman roubando a cena em todas as sequências que protagonizou.
Por falar em Meadow, ainda que sua trajetória carregue uma carga genuinamente angustiante, sempre existiu algo divertido na forma como ela encarou tudo o que descobriu junto ao culto de Kai. Ela foi a responsável por desenhar os pesadelos em forma de máscaras para os palhaços, acreditando que era importante para o manipulador líder dos assassinos. Foi triste e previsível quando ela revela o jogo duplo no fim do episódio, porém isso não diminui tudo o que Meadow representou. Não queria ter me despedido dela assim tão cedo, no entanto, essa sensação de que qualquer um pode morrer traz a urgência necessária para a segunda metade da temporada ganhar corpo e importância.
Na linha de despedidas, fiquei decepcionado mesmo em como subaproveitaram a promissora personagem de Mare Winningham. O discurso de Sally arrepiou porque conseguimos associá-lo instantaneamente ao horror político que a gente enfrenta no Brasil. A candidata fala de Kai e Trump, mas poderíamos muito bem adicionar o MBL na frase que ressalta o real significado da palavra reacionário em cenários políticos de caos. Peças do gênero são só moscas que o lixo atraiu. Livrar-se delas é difícil, pois não estamos dispostos a encarar que a sujeira que os atraem foi deixada por nós.
Na semana das personagens femininas em American Horror Story, o texto também reservou um pequeno espaço para compreendermos as motivações de Ivy. Continuo achando a personagem complexa, mas não menos egoísta. Alison Pill, que admiro desde a saudosa The Newsroom, finalmente mostrou a que veio e suas reações durante o tiroteio no comício foram cruas e emocionantes. Para completar, fui pego de surpresa quando ela deixa Ally escapar da casa de Sally. Mais uma vez penso que deveremos ter dissidentes do culto se voltando contra Kai numa possível virada que já se adianta como algo promissor. Cult pode e deve surpreender mais a partir de agora.
Outro ponto alto deste ano é sua estrutura narrativa que, mesmo ousada na não linearidade dos fatos, não nos deixa confusos um minuto sequer. Os piores momentos da série sempre foram aqueles nos quais a antologia não se encontrava na forma como pretendia narrar o novo conto apresentado. Em Cult, a diegese das notícias dadas por Beverly e o ritmo frenético que acompanha nossa sociedade atual funcionam como fio condutor de tudo. Por isso que passamos a saltar no tempo diversas vezes para tentar entender como tudo aquilo teve início. Ninguém consegue encontrar a fonte do medo no meio do caos, pois sentir medo é uma forma de se proteger, então não importa onde tudo começou.
Kai entende isso como ninguém e, agora que está prestes a se tornar um mártir, deve finalmente alcançar seus planos de “dominação mundial”. É algo megalomaníaco, porém manias de grandeza sempre foi algo inerente à gênese de American Horror Story, só que agora estamos acompanhando todas essas ambições personificadas em um único personagem. A série sabe bem se reinventar sem perder sua essência. A prova está aqui, meus caros.
P.S.1: Passei um tempo para decidir qual máscara me assustava mais e com certeza é a de Ivy. A quimera metade elefante, metade cavalo me dá arrepios toda vez que aparece.
P.S.2: Mais alguém estranhou aquela troca de olhares entre Sally e Beverly? Acho que aquilo tem algum significado.
P.S.3: Se é para falar de cultos, por que não trazer de volta um certo coven de Nova Orleans? Acho que Cordelia dá as caras em Brookfield Heights até o final da temporada. Podem anotar.
P.S.4: Sally menciona diversos líderes de cultos na conversa que tem com Ally. Adianto que veremos representações deles até o fim da temporada. Evan Peters interpretará todos.