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Crítica | The Post – A Guerra Secreta

Situado entre o final da década de 1960 e meados da década de 1970, o novo longa do aclamado diretor Steven Spielberg retrata os principais conflitos ocorridos após o vazamento de informações sigilosas sobre o posicionamento dos EUA quanto à Guerra do Vietnã, conhecido historicamente como o caso dos Pentagon Papers.

A trama caminha em torno da frustração dos americanos ao descobrirem que por quase uma década foram enganados pelo governo, que se dizia confiante quanto aos resultados da guerra, mas nos bastidores não via progresso algum em manter seus homens no campo de batalha. Além disso, o longa também aborda os dilemas da imprensa e a censura imposta por Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos no período, que impunha, cada vez mais, uma postura agressiva diante da situação.

O longa é estrelado por Tom Hanks e Meryl Streep, e também conta com a participação da atriz Sarah Paulson e do ator Bob Odenkirk, conhecido principalmente por seu personagem de Saul Goodman em Breaking Bad, e agora em Better Call Saul. O elenco de peso é, com certeza, um dos pontos-chave da produção, juntamente com a direção apurada de Spielberg, que de forma extremamente bem calculada entrega ao público um posicionamento forte perante a situação, desde as cenas transitando entre as mesas da redação do Washington Post, fazendo com que seu público se sentisse como parte da equipe, ao nítido distanciamento nas sequências de Richard Nixon em casa.

E embora algumas sinopses caracterizem o filme como um simples embate entre a imprensa e o governo americano, sem dúvida The Post – A Guerra Secreta vai além. O filme também retrata a luta de gêneros através da interpretação da sempre magnífica Meryl Streep. Com sua personagem Kay Graham, nossa protagonista apresenta o machismo diário enfrentado por trabalhar em um ambiente que, na época, era predominantemente masculino.

Como resultado, da primeira à última cena, a atuação de Streep é absolutamente natural e o desenvolvimento da personagem é empolgante de assistir. Indo de uma quieta viúva que assumiu o cargo de editora-chefe do Washington Post à palavra final das principais e complicadas decisões envolvendo a censura do governo aos jornais, Streep – e Graham – literalmente ganham voz ativa na trama.

Apesar do retrato dessa perseguição de gato e rato que foram os eventos desse vazamento dos documentos confidenciais poder ser considerado um assunto relativamente antigo, o contexto de censura e guerras ainda é bem atual e The Post – A Guerra Secreta reconhece isso. Muitos veículos de massa acabam optando por escolher um lado e apoiar decisões governamentais com medo das consequências que isso pode lhes causar, colocando interesses particulares à frente do código de ética. No entanto, a resolução de que a imprensa deve servir aos governados, e não aos governantes, ainda é uma realidade a ser encarada não só nos EUA, mas também no Brasil, onde ainda se fala muito sobre a influência que os principais meios de comunicação têm sobre a população no que diz respeito à situação política nacional.

Por fim, The Post – A Guerra Secreta chega às telas com debates intensos através de um roteiro bem fechado e atuações de rostos conhecidos e adorados pelo público, além de conseguir fazer um paralelo entre passado e presente enquanto retrata os bastidores e as consequências de ser um dos pilares que sustentaram a escrita do rascunho da história americana.