Crítica | Trama Fantasma
Nomeado em seis categorias no Oscar 2018, Trama Fantasma é o mais recente filme do diretor Paul Thomas Anderson (O Mestre, Sangue Negro) em parceria com o três vezes vencedor do Oscar Daniel Day-Lewis (Lincoln, Sangue Negro). O longa nos apresenta a história de Reynolds Woodcock (Day-Lewis), um costureiro famoso e metódico que se envolve num relacionamento com a jovem Alma, interpretada por Vicky Krieps (Amor e Revolução). Morando apenas com sua irmã Cyril – com excelente interpretação de Lesley Manville, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar deste ano -, acompanhamos o desenvolvimento da relação conturbada do renomado costureiro com Alma e como isso muda a rotina de todos que ali vivem.
Trama Fantasma não é nem de perto um filme sobre um relacionamento normal. Reynolds é um sujeito metódico e intolerante a qualquer alteração em sua rotina. Ainda em luto pela morte da mãe, encontra na irmã, Cyril, proteção para manter suas manias de comportamento, o que passa um ar de imaturidade e de criança mimada para um personagem na casa dos 50 anos. Entretanto, Reynolds é obcecado pelo seu trabalho e rigoroso com a qualidade de seus vestidos. Daniel Day-Lewis e Paul Thomas Anderson, em perfeita sintonia, unem atuação e direção para mergulhar neste universo da alta costura. Com uma direção detalhista, mostrando ao público cada passo do processo de Reynolds, Daniel Day-Lewis dispensa apresentações e é um monstro da atuação, nos convencendo da personalidade excêntrica de seu personagem desde os primeiros segundos de cena.
Quando a jovem Alma entra em sua vida, as coisas começam a mudar. Ela questiona a rotina de Reynolds, o que gera conflitos. Normalmente amparado pela irmã Cyril, que dispensa as namoradas do costureiro por ele, Reynolds encontra alguém que consegue mergulhar em sua cabeça e aprender a controlá-lo. O roteiro trabalha essa evolução do relacionamento lentamente, até chegar a limites que ultrapassam qualquer relação saudável. Alma muda a rotina da Casa de Woodcock por ser tão “excêntrica” quanto o famoso criador de vestidos, mas essa excentricidade está imersa em uma personalidade doce e calma.
Trama Fantasma conta com um figurino impecável, além de uma trilha sonora original que se une de forma perfeita e detalhista às cenas, sendo difícil desassociar a trilha da obra. Paul Thomas Anderson sabe bem envolver o espectador dentro das histórias que ele quer contar, e neste caso não é diferente, porém só um olhar atento capta a quantidade de informação em cada cena, que varia do humor ao suspense e ao desconforto de uma forma que soa natural, brincando com o público e deixando um certo mistério sobre a conclusão da história até o final.
Com seis indicações ao Oscar – Melhor Filme, Melhor Diretor (Paul Thomas Anderson), Melhor Ator (Daniel Day-Lewis), Melhor Atriz Coadjuvante (Lesley Manville), Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora -, Trama Fantasma foi uma grande surpresa entre os indicados ao prêmio deste ano. Mesmo não sendo favorito em nenhum deles, pode surpreender, afinal Daniel Day-Lewis é um dos atores favoritos da Academia. Misturando drama, suspense e thriller psicológico, Paul Thomas Anderson entrega um grande filme sobre relações conturbadas e prova que sua parceria com Day-Lewis sempre rende bons frutos. É uma pena que o ator esteja se aposentando, o cinema sentirá sua falta.