Nerd de Pijama | A série lagosta
Para quem já viu Friends alguma vez na vida, sabe muito bem que todos nós temos a nossa lagosta. Ou seja, a pessoa com quem nos encontramos e com quem ficamos para sempre juntos (de uma maneira ou outra). A referência usada por Phoebe para descrever o romance entre Ross e Rachel na série pode também ser usada por nós no mundo seriador. Afinal, até a própria Netflix já brincou com o meme de que não importa quantas séries entram em sua grade, sempre voltaremos a rever aquela única que habita em nossos corações. A partir disso, por que não chamar a nossa série favorita de lagosta?
Se você, assim como eu, nasceu nos anos 1990, vai se lembrar que as nossas mães ou pais sempre ouviram a mesma rádio, estavam sempre com o canal ligado no mesmo programa de manhã cedo ou durante os afazeres domésticos. Pois é, nós crescemos para desenvolver o nosso “Ana Maria Braga” de uma maneira bem natural. Quem nunca foi fazer a janta enquanto colocava a Netflix nos mesmos episódios de House, Scandal ou até mesmo Grey’s Anatomy? Ou então, ao invés de ouvir música, estava com a TV ligada para escutar as piadas de Friends e parar a vassoura só para ver a cara do Chandler rindo. Bom, estes são alguns exemplos de que fomos criados para desenvolver este querido hábito de repetitividade contínua – porém conformista.
Sabe quando tudo que você quer é chorar por conta de uma TPM infernal e coloca nas cenas dos desastres escritos por Shonda em Grey’s? Ou até mesmo liga a TV num episódio qualquer na Hora da Aventura só para comer um lanche no meio do corre-corre da vida? Bom, o primeiro sinal da sua série lagosta é ela sempre estar no seu “continue assistindo” da Netflix. O segundo seria basicamente o propósito do drama/comédia/suspense produzido na sua vida: rever Game of Thrones para descarregar certa raiva de certa pessoa com tantas mortes, ou até mesmo Sons of Anarchy para aquela chuvarada de violência que te deixa mais pacífico do que academia ou Pilates.
O efeito das séries no nosso dia a dia por muitas vezes é depreciado como falta do que fazer, preguiça e até mesmo depressão por não querer largar a ficção. Mas quem nunca teve fome ao ver aqueles pratos lindos feitos pelo Hannibal? Ou quem nunca torceu para ver a volta de alguns personagens em Once Upon a Time? Até mesmo a confusão de tempo/espaço criada pelo Barry Allen nos deixa motivados a entender um pouco mais de assuntos que não estão impressos no nosso cotidiano. Entenda que quando dizemos nossa grade de séries como quem dita um currículo para entrevista de emprego, significa bastante e mostra também muito do que somos capazes. Aprender, sentir e até mesmo usar as séries como objeto de progressão em nossas vidas é o que faz de nós, seriadores, continuarmos ao lado destas queridas.
Muitas delas nem começamos a ter apego, não gostamos de cara, e esta é a impressão que fica. Porém se você, assim como eu, fica vendo Friends do nada só para ter o conforto de rir ou de bater aquela vontade de comer pizza com café e/ou cerveja… Bem, saiba que não está só. Nossas séries lagostas sempre estarão lá para nós, se assim precisarmos. Alguns preferem filmes ou livros lagostas e até games também, nada contra, mas a satisfação de ouvir o Joey dizendo que não divide comida enquanto se acaba com uma pizza quentinha que acabou de chegar na sua casa, é das coisas que nunca vão te deixar mesmo.