Fora de Cena | A Múmia (1999)
A Múmia, filme de 1999, é ainda hoje uma daquelas histórias que, diferente do seu remake, você nunca vai se cansar de ver. Nesta edição, a Fora de Cena veio te lembrar o porquê e te fazer ficar com vontade de assistir mais uma vez este longa que foi um sucesso inesperado e que acabou gerando duas continuações – O Retorno da Múmia e A Tumba do Imperador Dragão -, além de um spin-off – O Escorpião Rei.
Primeiro é importante fazer um recorte histórico e dizer que o personagem “a múmia” nasceu dos filmes de horror da Hammer, também conhecida por outros filmes de monstros como Drácula e Frankenstein, com o primeiro filme da múmia sendo lançado em 1932. Em 1959, o personagem voltaria em outro filme, agora com Christopher Lee como a múmia em mais um longa de terror que se tornaria um clássico. Foram necessários mais 40 anos para que o monstro saísse de sua tumba novamente para ganhar destaque nesta superprodução de 80 milhões de dólares que se tornou um fenômeno mundial de bilheterias.
Estabelecendo seu clima de aventura desde os primeiros segundos com a brincadeira visual na logo da Universal, o diretor Stephen Sommers reúne não somente todos os elementos visuais e narrativos que estabelecem uma aventura, mas também pontua seu filme com uma rica (mesmo que nunca profunda ou complexa) gama de detalhes, fatos e teorias, ficcionais ou não, envolvendo a arqueologia e toda sua simbologia, o que garante uma constante verbalização de curiosidades sobre o antigo Egito, quase uma brincadeira histórica. E não é para menos, visto que com personagens visivelmente inspirados em Indiana Jones (Rick, interpretado por Brendan Fraser, e Evelyn, vivida por Rachel Weisz), a aventura nos transporta para o renascimento do sumo sacerdote Imhotep (Arnold Vosloo) em nossos dias, que séculos atrás havia sido sentenciado à morte e mumificado por trair o Faraó Seti I (Aharon Ipalé) ao manter uma relação proibida com sua esposa, a bela Anck-Su-Namun (Patricia Velasquez).
A imponência de A Múmia é o que primeiro salta aos olhos. Quase 20 anos após seu lançamento, e mesmo passando longe de ser uma das referências visuais daqueles anos, o filme ainda encanta e convence com sua criatividade na concepção de cenas, manipulação dos efeitos visuais e controle das cenas de ação (como não lembrar da onda de areia com o rosto de Imhotep?). Por mais que Sommers não seja Spielberg e pese a mão em alguns momentos cômicos, é na constante identidade de autoparódia que o longa deixa sua marca.
Apesar de estar recheado de clichês, o roteiro de Sommers tem o bom senso de não se levar a sério. Exemplo: várias vezes durante a história um vento misterioso começa a soprar subitamente, assustando os protagonistas – um recurso antiquíssimo utilizado todas as vezes em que um diretor sem imaginação precisa criar um clima de terror. Apesar disso, o que falta de sustos é compensado pelo humor, e é com esse clima de descontração que A Múmia deixa sua marca de cinema brincalhão e entretém fácil um público que, seja nos anos 1990 ou hoje, procura uma aventura que seja ágil, movimentada, engraçada, exuberante visualmente e que reúna personagens de grande carisma. O pacote aqui é completo.
Mesmo que em certos momentos alguns cenários do longa pareçam ter sido importados diretamente de O Príncipe do Egito, as criaturas feitas através de efeitos visuais são muito credíveis, funcionando em sua maioria até hoje, principalmente quando Imhotep está se regenerando e ele não é apenas uma múmia que tira as faixas, mas que as mostra junto com os músculos e seus órgãos degenerados. É realmente assustador e angustiante. A fotografia de Adrian Biddle é o grande destaque na parte técnica, que também conta com o belo design de produção de Allan Cameron. De qualquer forma, A Múmia é tão competente e honesto na reunião de seus elementos e na sua imposição de grande produção que se torna difícil não se deliciar com seus êxitos, deixando claro que é, e sempre será, uma aventura dinâmica e saudosista do agrado de todo amante desse gênero.