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Crítica | Gosto Se Discute

Talvez ao longo da vida você já tenha ouvido bastante a frase “gosto não se discute” nas rodas de amigos ou então na própria família. Seja na escolha do gênero musical, no estilo da roupa, numa cor exagerada, a resposta é sempre a mesma: cada um com seu jeito/gosto. Entretanto, o título deste filme faz uma exceção à regra, mostrando que gosto se discute e que em alguns casos a pessoa se vê obrigada, ou talvez iluminada, por uma súbita mudança de estilo.

Na trama, um renomado chef de cozinha cabeça-dura para no tempo, rejeitando quaisquer mudanças no cardápio e na decoração clássica de seu restaurante. Todavia, quando passa a perder grande parte da freguesia para Patrick (Gabriel Godoy), concorrente vizinho e proprietário de um food truck, o então teimoso Augusto (Cássio Gabus Mendes) terá que aceitar uma leva de modificações exigidas pela imponente Cristina (Kéfera Buchmann), auditora responsável por representar o sócio investidor do imóvel, mais conhecido como sendo do banco.

Beirando a falência e com um alto nível de estresse, o proprietário do Gusto perde um elemento muito estimado pela profissão e terá que superar os próprios limites para conseguir recuperar o tão essencial paladar, fator principal para a reconquista dos tempos de glória do estrelado restaurante.

O longa, com direção e roteiro de André Pellenz, almeja mostrar uma concorrência entre o mundo gastronômico. Contudo, o enredo não se sustenta e fica perdido entre comédia, romance e drama, evidenciando ser incapaz de se definir como um só. Nós acompanhamos no desenrolar da narrativa o fracasso desse consagrado chef, ao passo que notamos nele uma crise de identidade imposta pela nova geração. Ele sabe que deve mudar para progredir e tentar se manter no mercado, enquanto que deixa claro ser relutante contra qualquer inovação que modifique seu espaço.

Apesar de se passar em uma locação única, o filme não se torna cansativo, já que o diretor soube trabalhar de forma criativa as mudanças proporcionadas pela história. Vez ou outra, somos pegos de surpresa por alguns devaneios propostos pelo script, mas aos poucos notamos que esses fragmentos se complementam. No entanto, Pellenz falha ao tentar justificar o cenário machista do mercado financeiro, fazendo uso de diálogos chulos e piadas de mau gosto. Em determinados momentos, é possível ficar abismado com a quantidade de besteira que sai da boca de Romualdo, médico já idoso interpretado por Paulo Miklos.

Com relação ao elenco, Kéfera Buchmann funciona e consegue personificar por algum tempo o papel da executiva séria e madura. Porém, a comédia forçada oculta o desenvolvimento e a aparente qualidade da jovem atriz, encaminhando a personagem para o que seria uma mulher à beira da psicose, pronta para atirar com o taser em qualquer um e a qualquer momento.

Dono de uma carreira longa e notável, Cássio Gabus Mendes personificaria bem a incompreendida personalidade de Augusto, não fosse a superficialidade encontrada nas falas do ator. Em cena, o gabaritado profissional não foi capaz de fazer valer a química do casal feito com Kéfera, deixando no ar um clima de amor simulado e genérico.

Gabriel Godoy é outro que também não foi bem aproveitado em tela. O intérprete de Patrick cobiça chegar com um tema conceituado e moderno, como por exemplo o uso da comida orgânica, mas acaba ostentando uma capacidade perdida ao ser jogado como mero coadjuvante dentro do que seria uma importante caracterização para a carreira dele.

Gosto Se Discute se perde em meio a um roteiro raso, que teria potencial caso tivesse sido bem construído. Embora tenha comandado o icônico Minha Mãe é uma Peça – O Filme, André Pellenz vende uma comédia barata e mal desenvolvida, sem nenhum apelo emocional, visto que o público não consegue se solidarizar pelos dramas vividos pelo protagonista, passando despercebido pelas crises apresentadas ao longo do título. Em nenhum momento foi possível sentir o quão grave pode ser a situação do chef de cozinha perder o paladar e ainda continuar trabalhando como se nada tivesse acontecido. A obra, capaz de entreter, agradaria mais se não tivesse sido apresentada de modo fraco e esquecível.

Saiba como foi a coletiva de imprensa de “Gosto Se Discute”