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Feud – Bette and Joan | Primeiras impressões da nova série de Ryan Murphy

You mean all this time we could have been friends?” – Baby Jane. Essa fala dita por Bette Davis durante o filme O Que Terá Acontecido a Baby Jane? é o resumo, ironicamente perfeito, do que poderia ter sido a ligação entre ela e Joan Crawford. Duas das mulheres dentre as mais talentosas de uma geração que tiveram de lutar contra seus estereótipos particulares para serem reconhecidas e, mesmo Oscarizadas, serem oprimidas pelo rolo compressor chamado Hollywood.

Elas tinham muito em comum.
Elas poderiam ser amigas? Sim.
Mas nunca foram.

Em Feud, tudo começa exatamente quando Joan convida Bette a tentar dar o troco e mostrar que a idade não lhes tirou o talento. Essa sacada de Joan Crawford foi uma oportunidade única para a época (e até atualmente), onde para a mulher que atua na indústria cinematográfica se torna quase impossível ser cogitada para papéis relevantes depois de certa idade ou quando as rugas teimam em aparecer. Ao contrário dos homens, que quanto mais velhos conseguem papéis mais rebuscados e podem até se dar ao luxo de serem heróis de ação com 70 anos.

O melhor dos dois primeiros episódios já exibidos é podermos presenciar não somente a briga entre as duas, mas todo este cenário que as envolvia e ajudava nessa rivalidade quase que plantada. Nós vemos claramente todo o machismo e sexismo dos grandes chefes de estúdio. E ficamos sabendo o porquê de as duas serem tidas como megeras pela indústria, pois sempre exigiram melhor tratamento e melhores acordos, se preciso processando os estúdios. Coisa que na época devia ser raríssimo.

A mão do diretor, roteirista e produtor Ryan Murphy (Glee/American Horror Story) escolheu como fio condutor desta história, de maneira acertadíssima, a criação de um paralelismo sui generis entre o que levou a união forçada do caminho das duas atrizes e o terror psicológico do filme O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. As irmãs Hudson estão atadas uma a outra não apenas fisicamente, mas principalmente psicologicamente trancafiadas. Enquanto Joan e Bette estão na mesma situação, guardadas as devidas proporções. Contudo, o ponto focal, que é a busca pelo respeito mútuo e da equidade, se faz presente em ambas as tramas.

A Bette Davis de Susan Sarandon é estupenda, os trejeitos, o inseparável cigarro, a atuação que foge do óbvio e do caricaturismo que a real Bette tentava se desvencilhar ferozmente por toda a sua passagem por Hollywood. Ela deixa claro que não é “A Malvada”, não é uma amargurada e invejosa da beleza alheia. Miss Davis passa pelas nuances da vida de qualquer ser humano.

Ela se mostra para o mundo como uma mulher forte, decidida e corajosa, mas no fim do dia sabia as suas fraquezas, sabe que falhou como mãe e na vida sentimental, e ela se entrega a esses fantasmas como qualquer mero mortal. Sarandon mostra, ela não fala. Ela encarna os imortais “Bette Davis Eyes”, e quando ela está em cena é impossível prestar atenção em qualquer outra coisa que não seja sua atuação magnífica.

Já Jessica Lange parece um pouco mais acanhada em sua representação como Joan Crawford. Em alguns momentos ela parece não estar à altura da companheira de tela, contudo a questão é mais profunda. Jessica Lange foi a Joan de sua geração. A história da garota bonita que tentava mostrar que tinha um talento real, não apenas alguém sendo beneficiada pelo belo rosto e curvas.

Como para Lange soa tão natural saber a hora de se fazer de frágil e usar de seus dotes e a hora de usar a cabeça, que parece muitas vezes que a atriz não entrega nada novo à personagem. Mas apesar de claramente estar um pouco abaixo de sua companheira de tela, a atriz demonstra uma intensidade diferente. Isso fica mais claro para quem viu a saída dela do projeto anterior de sua parceria com Ryan Murphy, no qual ela parecia apática e desmotivada. Talvez a presença desafiadora de Susan a faça sair da zona de conforto e nos traga alguma grata surpresa. Entretanto, longe de sua atuação comprometer a série, só não é brilhante.

Está é Feud – Bette and Joan, uma série apaixonante. O diretor, roteirista, produtor e tia do café Ryan Murphy conseguiu mostrar que agora possui a capacidade de ser sutil e ao mesmo tempo incisivo. Características que até pouco tempo pareciam incompatíveis dentro da mente do mesmo. Ele é conhecido por começar muito bem e se perder em histrionices que tiravam a credibilidade das suas histórias e dos personagens em tela. Talvez o tempo e os seus outros 147 projetos simultâneos tenham lhe ensinado algo através da tentativa e erro. A sutileza deste novo Ryan já começa no hipnotizante crédito inicial. É impossível pular essa abertura! Um trabalho artístico muito bem executado que mostra de maneira cartunesca o filme dentro da série e a própria série em si.

Acho que deixei bem claro o quanto gostei da série, não é mesmo? Espero que deem uma chance tanto à Feud quanto ao filme O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Com certeza não irão se arrepender.

Por Erika Ribeiro

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