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Crítica | Soundtrack

Soundtrack é uma produção da dupla de 300ml, responsável pelo curta metragem Tarantino’s Mind. O filme conta com os atores brasileiros Selton Mello e Seu Jorge – também produtores e, no caso do último, um dos compositores da trilha sonora – e do ator inglês Ralph Ineson.

Com toda certeza, não há outro título mais adequado para este longa. A trilha sonora – soundtrack – é o elemento mais importante tanto na história dos personagens quanto para a construção do filme. Interessante também foi a escolha de manter o nome em inglês, um possível diálogo com as personagens de nacionalidades diferentes. E o que há de especial nesta trilha sonora, afinal? As melhores palavras para defini-la são intensa e repentina. Ela não é um acessório, é crucial para a desenvoltura do filme, uma vez que dialoga diretamente com os sentimentos oscilantes dos personagens.

Cris (Selton Mello) é um fotógrafo que, para realizar sua exposição, decide ir até uma estação de pesquisa no Ártico, onde conhece o botânico brasileiro Cao (Seu Jorge), o especialista britânico em aquecimento global Mark (Ralph Ineson), o biólogo chinês Huang (Thomas Chaanhing) e o pesquisador dinamarquês Rafnar (Lukas Loughran). É muito difícil para os então habitantes da estação compreender as intenções de Cris. A verdade é que em certos momentos nem o próprio consegue explicar para si mesmo suas motivações. A princípio, seu objetivo é ouvir músicas previamente selecionadas e tirar selfies enquanto o faz, revelando dessa forma as emoções causadas pelas diversas melodias. Fica claro então a importância da música e seu poder nesta história, mesmo que muitas das vezes não escutemos o que os personagens estão escutando, somos capazes de sentir o mesmo que eles.

Em alguns momentos o filme se torna um pouco cansativo, há certo mistério em relação a Cris, pois não se sabe de fato se o que ele está fazendo tem algum sentido. Ele pode ser um gênio louco ou apenas um louco. Além disso, como o filme se passa em uma estação de pesquisa no meio do nada, as atividades são limitadas, o que o torna repetitivo em alguns momentos. Assim como numa composição musical em que podemos ter momentos de calmaria e notas tênues, o filme também possui momentos tensos em que as notas oscilam entre os mais graves e agudos. O único receio era que todo esse som se perdesse no vazio e que o longa terminasse sem que nada realmente fizesse sentido para quem o vê. Felizmente não somos decepcionados. O desenvolvimento não apenas do personagem de Cris, mas também de seu trabalho, é incrível e Soundtrack consegue provar, no seu clímax, que não é apenas um filme pelo filme, mas sim um filme pela arte.