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Black Lightning | Não é o nascimento de um herói, é a sua ressurreição

Diferente das outras séries da DC do canal CW, Black Lightning não conta uma história de origem ou de nascimento de um novo herói, mas sim a ressurreição do mesmo. É um novo jeito de contar, mais uma vez, como este personagem é introduzido neste universo e quais são seus objetivos, seus poderes e a motivação para que tudo aconteça no desenrolar da história. Desta vez, a trama acompanha Jefferson Pierce (Cress Williams), divorciado, pai de duas filhas e diretor de uma escola em um bairro de Nova Orleans.

Anos atrás, ele costumava ser o Raio Negro (nome em português). Ele possui os poderes de controlar a eletricidade e os usava para proteger as ruas da sua cidade como um vigilante mascarado. Porém, depois de muito colocar sua vida em perigo, e afetando diretamente a de seus familiares, ele decidiu deixar o vigilante mascarado para trás e apenas viver normalmente com sua família. O episódio começa nove anos depois de sua última atuação como herói, quando Raio Negro precisa voltar aos seus dias de heroísmo.

Como já dito, Black Lightning é totalmente diferente dos outros heróis da DC que têm sua residência na CW. E isso não é apenas pelo fato de não contar sua origem logo no episódio piloto, é também pela motivação desse vigilante e tudo o que engloba seu universo. Inclusive, o elenco inteiro faz com que a série tenha uma visibilidade melhor, tornado-a agradável de acompanhar.

A produção mostra o que as pessoas negras passam todos os dias de sua vida, como, por exemplo, serem paradas pela polícia, precisarem se provar ainda mais do que os outros indivíduos na sociedade, além de diversas outras situações lamentáveis que sofrem apenas por serem negras. Até o reaparecimento do Raio Negro, nove anos depois de sua aposentadoria, traz essa questão. Por que os “vigilantes brancos” são tratados como heróis e o Raio Negro é tratado apenas como vigilante?

Todo o elenco é bem introduzido e cumpre o seu papel de forma excelente, diferente de algumas séries que assistimos na mesma emissora. As filhas Anissa (Nafessa Williams) e Jennifer (China Anne McClain) são as mais importantes dessa nova história e, consequentemente, as que mais têm destaque. Anissa é a mais velha e madura e descobre que possui habilidades especiais, já Jennifer é carismática e, por mais que seja outra adolescente rebelde, faz o público se importar e querer proteger a garota, assim como Jefferson. O elenco de apoio também mostra a que veio e nos faz acreditar ainda mais nessas pessoas, mas o foco principal é em Tobias Whale (Marvin ‘Krondon’ Jones III). Mesmo aparecendo por poucos minutos na telinha, Tobias provavelmente será o vilão da temporada e é o motivo do Raio Negro começar a atuar como herói e também de se aposentar.

Vale destacar também a trilha sonora, outro quesito que mostra um pouco sobre a cultura na qual a série quer nos inserir. Além de ser muito boa, cabe totalmente com os momentos em que é encaixada no decorrer do episódio. Este recurso é bem aproveitado e traz empolgação, nos levando a entender a volta deste novo herói.

No que diz respeito ao roteiro do episódio, a história do Raio Negro é bem trabalhada e conta com recursos de narração introdutórios para nos situar onde estamos, quem estamos acompanhando, de onde ele veio e para onde ele vai. Batendo na mesma tecla mais uma vez, é diferente e é empolgante de acompanhar, pois não parece que já estamos saturados de assistir mais uma série de herói.

Ao mesmo tempo em que Black Lightning se mostra mais dramática devido à vida daquelas pessoas que ali estão, ela também é leve no jeito de ser narrada. A série, neste primeiro episódio, não precisa usar recursos de drama extremamente cafonas para fazer o telespectador se importar com seus personagens, ela conta a vida de pessoas negras e de toda uma comunidade que é marginalizada apenas pela cor de sua pele. É a vida real com um herói que nela existe.

Outro ponto ótimo é que a produção não tem medo de mostrar as consequências de uma luta. O Raio Negro se machuca e os seus ferimentos, cortes, tiros e todo o sangue perdido são bem aparentes. E isso não é só com o protagonista, todos os outros personagens que também se machucam nas lutas recebem este tipo de destaque. Não é como as outras séries de herói do canal, que geralmente não aparece nada ou é muito difícil ver algo do tipo. Até  mostram como ficou um dos criminosos que o Raio Negro “queimou” com seu poder de eletricidade.

O mais importante é a dúvida que surgiu de algumas pessoas sobre como seriam as cenas de luta de um ator de quase 50 anos. E isso é fácil de responder: elas são boas, na medida e bem feitas. Não são exageradas, são concisas. São perfeitas para o que é mostrado. Mesmo em um universo de heróis, não é todo mundo que luta como um ninja saído direto da Yakuza, como acontece em muitas outras séries do gênero, então o combate fica decente e bom de se ver. Até os poderes elétricos do Raio Negro ficam mais atrativos quando ele os usa no meio de uma luta. Já o traje do herói, que no primeiro momento não é nada bonito, fica legal quando o vemos em ação. E, sinceramente, a série se mostrou mais do que isso para que um traje “ok” seja algum problema.

Black Lightning é aquela série que mesmo tendo visto o trailer antes e já esperando por algo, não te prepara para o episódio piloto. Ela é boa e conta uma história fechada com pequenos cliffhangers para sua continuação, mas não abusa do roteiro e não te promete ser nada mais do que já é. E ela é, sim, muito boa de assistir.