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Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

Ghost in the Shell começou como um mangá criado por Masamune Shirow, transformando-se em um forte representante do gênero cyberpunk. O sucesso do mangá deu origem ao anime O Fantasma do Futuro, dirigido por Mamoru Oshii, que não tardaria em figurar ao lado dos grandes animes de ficção científica como Akira, Paprika, Cowboy Bebop, entre outros. Desta forma, algumas das produções de Hollywood de meados dos anos 1990 até os dias atuais se aproveitaram de alguns dos elementos que Ghost in the Shell ajudou a consagrar (notadamente Matrix) e estabeleceram novos padrões para seus filmes de ação. É de se estranhar que tenha levado tanto tempo para que uma adaptação norte-americana da obra japonesa fosse produzida.

Na cena de abertura de A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, acompanhamos um transplante de cérebro humano para um corpo sintético. Nasce assim Major (Scarlett Johansson), uma agente ciborgue a serviço da Seção 9 responsável por investigar crimes cibernéticos e deter hackers e ciberterroristas, onde é comandada por Daisuke Aramaki (Takeshi Kitano) e conta com a ajuda e lealdade de Batou (Pilou Asbæk). Sob os cuidados da Dra. Ouelet (Juliette Binoche), uma das cientistas a serviço da companhia Hanka, chefiada por Cutter (Peter Ferdinando), Major descobre algumas falhas em seu cérebro, advindas de lembranças nebulosas do passado. Enquanto precisa lidar com esses flashes, ela tem que deter Kuze (Michael Pitt), um hacker cujo passado está conectado com o da Major e que planeja sabotar a companhia Hanka.

Cinco anos depois de sua estreia na tela grande com Branca de Neve e o Caçador, o cineasta Rupert Sanders retorna com um filme que (apesar de algumas questionáveis escalações caucasianas) respeita e faz muitas referências ao material de origem, chegando a reproduzir cenas idênticas ao anime de 1995. Para imaginar a cidade do futuro, percebe-se que Sanders foi influenciado também por grandes clássicos do cinema de ficção científica, sobretudo Blade Runner – O Caçador de Androides, concebendo uma ambientação nublada, por vezes suja, e sombria. No geral, as cenas de ação são bem conduzidas; no entanto, o mesmo não se pode falar da maioria das cenas em que é preciso apresentar drama, tomando a infeliz decisão de subir o volume da música instrumental para criar algum clima e que deixa as cenas tão artificiais quanto o corpo sintético da Major.

Por outro lado, o roteiro de Jamie Moss e William Wheeler é muito bom quando desenvolve a personagem da Major e seu passado, fazendo com que o filme ganhe ainda mais força. E a atuação de Scarlett Johansson, ainda que muitos questionem (e com razão) sua escalação, é eficaz ao representar a impetuosidade da Major e consegue despertar o interesse do espectador pelos próximos passos da personagem. Juliette Binoche exibe a competência de costume ao surgir como uma espécie de figura materna na vida da Major. O pouco conhecido Pilou Asbæk é uma verdadeira revelação representando a lealdade incondicional de Batou. E Takeshi Kitano rouba a cena toda vez que Daisuke Aramaki aparece, compondo um oficial superior extremamente rigoroso, mas que não hesita em ajudar Major quando isso se faz necessário.

Ainda que se perca um pouco em meio às reviravoltas e esteja anos-luz de ter o mesmo impacto da obra original, A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell é um bom filme que, mais uma vez, comprova a qualidade de Scarlett Johansson como heroína de ação. Não obstante, a repercussão da escalação da protagonista serve como lição para que Hollywood preste mais atenção nos talentos não-caucasianos que tem por aí. Pleno século 21 e ainda estamos tratando whitewashing como assunto do presente.

Por Lucas Ferreira

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