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Animaction | Batman: Gotham by Gaslight

O filme, ainda sem tradução no Brasil, é uma história que leva os contos do Batman para a era vitoriana inglesa e traz como problemática principal para nosso detetive o Jack, o Estripador. Isso tudo desenhado pelas mãos do incrível Mike Mignola (Hellboy) e escrito por Brian Augustyn, porém o longa será mais uma animação lançada diretamente para o mercado de Blu-Ray. Batman: Gotham by Gaslight teria tudo para fracassar de maneiras enormes, afinal, o nosso Cavaleiro das Trevas precisa de muita tecnologia ao seu redor. Contudo, foi bem divertido ver Bruce Wayne dar uma de Sherlock Holmes à moda antiga e provar mais uma vez que não tem mistério que o Batman não desvende.

O roteiro encaixa bem com a época, nos traz os três Robins em forma de meninos de rua, Hera Venenosa como stripper, Selina Kyle de atriz e até a Harley Quinn como uma velhinha louca. Lembrando que as vítimas de Jack são primeiramente mulheres atacadas em beco, que segundo o assassino são um mal para a virtuosa sociedade de bem que Gotham deve ter. Neste discurso não tem como não pararmos dois minutos para pensar na luta das mulheres para conseguirem um voto e mudarem o jeito como os homens as verem, afinal, Jack as odeia assim como muitos serial killers que conhecemos atualmente. Selina consegue escapar graças ao Morcegão e termina por descobrir toda sua identidade por trás da máscara com um romance que não é enfadonho nem mesmo na era vitoriana – vide a cena em que os dois são pegos transando numa carruagem.

Ao mesmo tempo que tem que desvendar o mistério do estripador de mulheres, Batman precisa lidar com a polícia de Gotham, que o odeia por ser um vigilante (sempre enfatizando a rixa de início de carreira do mesmo), e com a suspeita sobre Hugo Strange e qualquer outro membro de alta classe da sociedade de Gotham, já que a primeira pista que temos nos direciona a isso. Confesso que a animação inteira passei a acreditar que era Harvey Dent o culpado, pois o personagem sempre demonstra a sua cara mais podre, que é a do homem cis, branco, que se acha no direito de tratar mulheres como objetos e não sabe levar um não na cara que começa a enaltecer uma violência verbal para ela (daí passamos a acreditar que seja ele realmente).

O roteiro nos embriaga tanto dos mais diversos personagens do universo do Batman até os ingleses (carruagens, cavalos, instrumentos no Bat-cinto que parecem ter saído de Assassin’s Creed – Syndicate), ao ponto que o mistério de Jack, o Estripador acaba se tornando a história escondida de O Médico e o Monstro. Nesta reviravolta que me surpreendeu bastante, o longa se desmancha de uma forma que nos leva a querer ver mais do roteiro, e é uma pena que acaba sem mais delongas e explicações. A sensação de que uma ou duas cenas estejam faltando é realmente grande ao subirem os créditos e ficamos na espera de que alguém um dia dê continuidade a esta história do Morcegão no que chamamos de Elseworld.

Um dos pontos fortes aqui é que amei a paleta de cores, elas realmente me lembraram muito as aventuras do detetive em Batman: A Série Animada. O jogo de sombras e a cara de irritado do Morcego, até para os Robins que aparecem para ajudar (Jason, Dick e Tim), assim como as cenas de luta que realmente passam o impacto dos golpes (amém, Mignola, por tal) e, não por último, a apresentação de toda uma Gotham para os desconhecidos. Um Bruce Wayne que ainda sente a morte dos pais, um Alfred que tenta equilibrar as vidas noturnas e diurnas do seu patrão e um Gordon superprotetor da sua família para com a criminalidade que a cidade possui.