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Fora de Cena | Poderosa Afrodite

Dos muitos filmes dirigidos e estrelados por Woody Allen, houve um período em que as suas histórias tratavam de situações do cotidiano que poderiam se aplicar a qualquer pessoa, com uma pegada de drama e comédia. Ao final do longa sempre tínhamos a sensação gostosa de ter visto um bom filme cujo desfecho, para nossa surpresa, não era o esperado. Aquele velho ditado “C’est la vie” – É a vida – se aplica bem ao filme em questão.

Nesta história, Lenny e Amanda (Woody e Helena Bonham Carter) decidem adotar um bebê. Por mais que Lenny em um primeiro momento fosse contra a adoção, ele se apaixona pelo menino, que se mostra a cada dia mais e mais inteligente e afetuoso. Certo de que seu filho é uma criança incrível, Lenny decide procurar a responsável por tamanha genialidade, que com toda certeza também deveria ser uma pessoa incrível: a mãe biológica. Como a vida adora pregar peças nas pessoas, a mãe do filho de Lenny é, na verdade, uma atriz pornô de bom coração, mas pouca inteligência. Sua maior façanha na vida foi ter participado de um filme chamado “A Bu**** Encantada”. Desapontado, Lenny decide conhecer melhor esta mulher e aos poucos pretende mudar a maneira como ela vive, começando, é claro, pela sua profissão.

Um elemento incrivelmente diferente neste filme e que o torna bem divertido é a presença de um coro grego. Da mesma forma que na Grécia Antiga histórias como Édipo Rei eram narradas pelo coro, há a presença dessas pessoas no longa que irão não apenas comentar as ações, muitas vezes impensadas, de Lenny, mas também irão interagir com ele. Há então uma quebra constante na história nos momentos em que o líder do coro começa a dialogar com Lenny, tentando sempre convencê-lo a mudar de ideia, como se fosse sua própria consciência.

As relações das personagens do filme é comparada pelo coro com a história de Édipo, que mata o pai sem saber e se casa com mãe e também está à mercê de outra personagem da mitologia grega, Cassandra, responsável por prever o futuro. Esse elemento torna Poderosa Afrodite único, pois além desses personagens completamente destoantes dos demais, há também a mudança repentina e sem explicações de lugar, já que o coro sempre irá aparecer nas ruínas de um teatro grego.

A narração do longa também é feita pelo coro e a história se desenvolve ao passo que Lenny se envolve cada vez mais com a mãe biológica de seu filho. O foco é realmente neles dois, que são comparados respectivamente a Zeus e à deusa Afrodite. Temos um roteiro bem articulado, como sempre (que possível) passado em Nova York, grande paixão de Woody Allen, com uma reviravolta inesperada no final, como era de se esperar. É um filme divertidíssimo e inteligente, que com certeza merece seu destaque na obra deste grande diretor.