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American Horror Story: Cult | 7×02 – Don’t Be Afraid of the Dark

As temporadas de American Horror Story possuem um jeito bem peculiar de construir seus próprios universos, sendo raras as vezes em que somos capazes de prever o que vai acontecer durante o ano. O episódio de Cult desta semana infelizmente pôs por terra essa característica do show ao se mostrar um tanto quanto frágil na construção do seu tema central. Não se decidindo sobre o que realmente quer ser, a série apostou na repetição de sequências nas quais o suspense não funciona mesmo com todo o estilo das criaturas e da direção. Logo, praticamente todos os personagens principais ficaram a um pé de entrarem no aborrecimento que fez todo mundo se afastar de Hotel lá na quinta temporada.

Invasão domiciliar é um subgênero do suspense que geralmente nos deixa de punhos fechados e na ponta da cadeira. Observar como verdadeiros voyeurs a privacidade sagrada de um lar sendo destruída por invasores é capaz de deixar qualquer um de cabelos em pé, e eu particularmente sou fã dessa atmosfera em filmes do gênero. Cult sabiamente desenhou características que indicavam essa vibe no episódio da semana passada, mas daí a repetir as mesmas cenas pelo menos umas três vezes neste Don’t Be Afraid of the Dark me pareceu sinal de cansaço e preguiça. Suspense depende de antecipação dramática, porém não temos como tirar drama de algo previsível. Sempre que Ally e Oz ficavam sozinhos, a gente já sabia que a gangue de palhaços ia aparecer, zerando toda e qualquer tensão.

O que veio de bom com toda essa repetição foi o clima de paranoia que se instalou ao redor de Ally. Não sei vocês, mas nesse exato momento eu suspeito de todas as pessoas que estão ao lado da moça. Principalmente Ivy. A parceira de Ally pode até ser fofa, compreensiva e solícita, só que algo não está certo ali. O bom é que as pistas sobre a futura traição da personagem vão sendo lançadas de um jeito bem orgânico, como no momento em que Ivy menciona para o Dr. Rudy os sacrifícios que ela fez para abrir o restaurante. Se somarmos isso à dependência que Oz tem da mãe, um twist bem macabro passa a se anunciar para o futuro da sofrida Ally.

Como se já não bastasse a possível traição da única pessoa que ela confia, Ally não pode contar nem com a polícia. O interrogatório estranhíssimo com o detetive Samuels também me deixou com a pulga atrás da orelha. Aos poucos a gente vai descendo na mesma espiral de paranoia que vem consumindo a personagem, e talvez este seja o maior trunfo da temporada até agora. No momento em que o roteiro opta por apresentar quase tudo pelo ponto de vista de Ally, a percepção do que é claro e escuro naquele universo fica borrada, imprimindo a tensão que não sentimos durante as cenas de ação.

Com o clima de conspiração, vem os vizinhos da casa ao lado vividos numa promessa divertidíssima pelos não menos divertidos Billy Eichner e Leslie Grossman. Os novatos no AHSverse dão vida ao casal que vem morar na casa dos amigos de Ally que foram assassinados na semana passada. Fiquei feliz que nem tentaram esconder o possível envolvimento dos dois nos planos de Kai, e a julgar pela altura e pelo físico da dupla fã número um de Nicole Kidman – concordo com você, Harrison, a atriz está mesmo transcendental em Big Little Lies –, os dois certamente são integrantes da gangue de palhaços. É esperar para ver, mas já quero mais pérolas vindas dos diálogos com os Wilton.

Kai não fez muita coisa, a não ser aterrorizar ainda mais o dia a dia de Ally numa sequência na qual encarna uma persona “testemunha de jeová encontra integrante do MBL” que cairia muito bem para satirizar a direita brasileira. Quando ele diz que tirou as estatísticas que mostram o crescimento de crimes cometidos por imigrantes do Facebook, não deixei de pensar nas fake news espalhadas todos os dias pelo MBL. Ao falar sobre o nosso momento político, Cult se sai melhor do que quando tenta assustar, e isso pode se tornar um problema se não for mediado de um jeito menos engessado.

Cult tem um potencial imenso, no entanto já escorregou neste início de temporada. Não julgo nenhuma temporada de American Horror Story sem encarar o primeiro dos twists, que começam a vir lá pelo quinto episódio. Por ora, estou mais confiante do que receoso. Não me decepcione, Ryan Murphy.

P.S.1: Para reforçar a minha teoria de que Ivy já faz parte do culto de Kai, peço que revejam todas as cenas dela neste episódio. Eu aposto que o palhaço que assustou Ally estava debaixo da cama, mas Ivy fingiu que não viu.

P.S.2: Winter mais quente que muito verão, né? Trocadilho besta, porém válido. Billie Lourd rouba a cena fácil.

P.S.3: Eu não quero que a presença do Twisty na temporada seja um fan service bobo. Essa dúvida também me tirou um pouco das cenas de suspense.

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