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Philip K. Dick’s Electric Dreams | Um promissor mergulho no sci-fi raiz de Philip K. Dick

Se definir como um ávido consumidor de ficção científica muitas vezes implica dizer que você conhece o trabalho de um dos papas do gênero, o americano Philip K. Dick. Conhecido por apresentar futuros distópicos em realidades alternativas que discutem a natureza humana sob uma óptica claramente inspirada pela psicanálise de Carl Jung – os conceitos de inconsciente coletivo e os arquétipos que moldam o pensamento humano sempre estão nos textos de K. Dick –, o autor é capaz de nos transportar para universos ricos em aspectos sociopolíticos que se fazem ainda mais impressionantes por serem verdadeiros espelhos dos maiores medos da humanidade.

Adaptando diversos contos do autor na forma de uma série antológica, Electric Dreams pode parecer à primeira vista como uma tentativa pretensiosa do Channel 4 de emplacar uma nova Black Mirror. No entanto, o show felizmente está bem longe disso. Inclusive, a série cult de Charlie Brooker guarda diversas semelhanças com a obra de K. Dick, porém Brooker atualiza muitos dos temas do autor e por isso que Black Mirror acaba sendo mais cínica e incômoda. Electric Dreams está mais para uma ode ao sci-fi clássico, emplacando dessa forma o preciosismo das histórias favoritas dos fãs de K. Dick.

Mesmo que nem tudo funcione bem, a proposta é louvável e nomes de produtores como Ronald D. Moore (Battlestar Galactica) e Bryan Cranston certamente contribuíram para agregar valores à produção, que de cara já se mostra impressionante. Tanto The Hood Maker como Impossible Planet entregam uma direção de arte belíssima que, somada ao ótimo elenco – Holliday Grainger, Geraldine Chaplin e Benedict Wong se destacando –, acaba contribuindo para imersão quase instantânea nos universos apresentados. Um deles mostra um futuro onde parte da humanidade evoluiu para uma espécie telepata que passa a ser cruelmente perseguida e rechaçada, já o outro narra uma história de amor que busca se realizar através da procura por um mítico Jardim do Éden chamado Terra.

Os erros encontrados nessas duas primeiras horas fazem referência à dobra meio trôpega para chegar aos twists das histórias originais. The Hood Maker é o episódio que mais sofre desse problema, pois nenhuma das soluções apresentadas no seu desfecho soam críveis ou impactantes. Uma duração estendida talvez acabasse com essa falha, porém o Channel 4 nunca está muito interessado em prolongar a faixa de exibição das suas séries e geralmente adaptar-se ao slot disponível é a saída mais fácil. O ruim é que o show acaba perdendo com isso.

Electric Dreams surge como uma das melhores estreias da Fall Season e, mesmo que de cara não pegue a audiência, não deve demorar muito para o boca a boca criar uma bolha de expectativas como aconteceu com Black Mirror. Certamente a pedida mais eclética e rica em temáticas para os fãs de ficção científica desta estação.

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