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Fora de Cena | O Pescador de Ilusões

Sempre existiram no mundo pessoas cuja opinião influencia as massas. Isso é mais do que normal, e há aqueles que se especializaram em tal função: apresentadores de telejornais, jornalistas, pesquisadores, professores, locutores de rádio. A opinião de uma pessoa famosa pesa muito na vida dos cidadãos comuns, que de certa forma se guiam por elas e, às vezes, se deixam levar até demais pelo que foi dito. O posicionamento político é um fator importante que marca o discurso de qualquer figura de destaque e o tipo de ideias que irá disseminar para o grande público.

O filme escolhido para a Fora de Cena desta semana, mesmo sendo do ano de 1991, carrega esse conteúdo extremamente atual ao nos apresentar o personagem principal, o locutor de rádio Jack Lucas, interpretado maravilhosamente pelo então cabeludo Jeff Bridges. Jack – uma figura extramente presunçosa e cheia de si – é famoso por seu polêmico programa de rádio, no qual dá sua opinião sobre assuntos do dia a dia, cria polêmicas e escândalos com pessoas famosas e responde às perguntas de ouvintes que ligam para a rádio.

Ele é extremamente radical em relação às suas ideias e deixa isso bem claro em seu programa. Pode-se até dizer que assumia um posicionamento de “direita”, mas nunca pensou que, por conta da essência de seus comentários, algo ruim fosse acontecer. Na verdade, tudo ia bem para Jack: sua voz era famosa graças ao programa na rádio e seu rosto estava prestes a ganhar fama, pois iria entrar para o mundo da televisão. No entanto, um ouvinte de seu programa tomou muito a sério suas palavras e acabou entrando em um restaurante e matando várias pessoas.

Após esse incidente a carreira de Jack foi por água abaixo, juntamente com sua autoestima. Esse fato não o impediu de continuar sendo um chato mal-agradecido, principalmente com sua namorada Anne (Mercedes Ruehl), que o deu um emprego em sua locadora, moradia e algo muito especial: amor – e, acredite, em alguns momentos você vai desejar que ela termine com ele de uma vez, pois ele não consegue dar valor a tudo que ela faz. Claro que há uma evolução homérica do personagem, quando ele, após vagar pelas ruas à noite, tenta se matar e é atacado por dois jovens, sendo salvo por um grupo de moradores de rua.

Dentre os moradores de rua está a cura para o egocentrismo de Jack e também um grande amigo, mas ele não sabe disso no princípio. Estamos falando aqui do incrível personagem chamado Parry, interpretado por ninguém menos que o saudoso e querido Robin Williams, que nessa atuação está simplesmente sensacional. A mulher de Parry foi uma das vítimas do ouvinte de Jack e, uma vez tomando conhecimento disso, ele tenta de alguma forma “reparar” a situação para que possa se sentir bem consigo mesmo novamente.

Parry, que ficou seriamente perturbado após a morte da esposa, sofre de alucinações e tem duas fixações: a primeira é a obtenção do Santo Graal, que ele jura estar na casa de um magnata da Quinta Avenida – e graças a esse plot temos sequências muito divertidas e uma mistura muito bem feita de loucura e realidade que colorem o filme e o deixam com um toque de fantástico. A outra obsessão dele é uma certa mulher chamada Lydia. Todos os dias ele a observa, mas nunca teve coragem de falar com ela.

Jack vê nesse romance sua chance de redenção e decide ajudar Parry a conquistá-la. No meio do caminho, é claro, ele irá enfrentar seus próprios medos, passando por cima de sua arrogância para admitir certos sentimentos e poder seguir em frente. Este é, sem dúvida, um filme que nos prende, capaz de fazer rir e de emocionar, deixando ainda uma importante mensagem sobre a responsabilidade que as figuras públicas devem ter em relação aos seus discursos, pois eles podem mudar a vida de várias pessoas, para o bem ou para o mal.