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Arrow | 6×20 – Shifting Allegiances

Aparentemente a necessidade de resolver todos os problemas da temporada começou a pesar e Arrow parece estar tentando manter o bom momento dos dois últimos episódios, mas infelizmente o resultado não é o esperado. Muito longe de ter sido ruim, Shifting Allegiances parece querer andar na direção certa e chega a acertar em vários pontos, mas ainda apresenta algumas características problemáticas.

Tanto os principais acertos quanto os erros estão presentes no que se refere à forma como os personagens foram apresentados no episódio, uma vez que, com relação ao enredo, não tem muita coisa para se comentar. Colocar o Oliver em julgamento por ser o Arqueiro Verde é algo que está para acontecer há seis anos e o mais provável é que o resultado decepcione… Ou porque vão dar um jeito de evitar isso de novo ou porque o processo em si não será bem representado. É um andamento necessário para o enredo? Sim, mas o medo de possíveis problemas é bem grande.

O maior ponto negativo do episódio é algo que já vem prejudicando a série há um tempo: a Laurel da Terra 2. Arrow parece ter uma dificuldade enorme em escrever bem e consistentemente qualquer membro do seu elenco, mas isso é especialmente verdade com as personagens femininas e o maior exemplo disso é a Black Siren. Os roteiristas parecem não saber o que fazer com ela, e para o público fica impossível apoiar uma personagem assim. Ela sempre parece estar em cima do muro, as vezes dá sinais mínimos de redenção, as vezes está trabalhando como braço direito do vilão da temporada. As vezes ela é uma assassina fria, as vezes vira a cara ao ver sangue. Sempre parece ter pouca personalidade e agora a colocaram em uma situação que insinua um relacionamento abusivo para que tenhamos pena dela, mas como único resultado nós ficamos ainda mais no escuro sobre como ela pensa de verdade.

Relacionamentos abusivos, sejam esses abusos físicos ou psicológicos, é um tema real e sério demais para ser representado desta forma. É um tema que merece destaque e que poderia ser usado na série para gerar uma discussão sobre o assunto. Ao invés disso, estão usando como muleta narrativa para transformar a personagem em vítima, para dar uma falsa sensação de importância para ela, quando na verdade ela é apenas um objeto do enredo. Curiosamente o caso mais famoso deste tipo de situação nos quadrinhos vem da própria DC Comics, na história A Piada Mortal. Por mais icônica e marcante que esta obra seja, ela não é, de forma alguma, uma história da Batgirl. Barbara Gordon foi apenas um objeto do enredo e uma vítima, da mesma forma que a Black Siren. A personagem dos quadrinhos deu a volta por cima, pelas mãos de ótimos(as) roteiristas que se importavam com ela, para se tornar um dos maiores ícones da DC depois deste fato. Tomara que a nova Laurel receba pelo menos um décimo desta atenção até o final da temporada.

Mas, ainda bem, nem tudo são problemas no que se refere aos personagens. John Diggle é o melhor exemplo disso, e vê-lo em uma posição de liderança fazendo um bom trabalho é muito bom depois da forma como ele saiu do Team Arrow. O Spartan merece essa atenção e foi bom vê-lo tendo destaque tanto dentro quanto fora das cenas de ação. Sua conversa com Rene foi curta, porém muito boa, e pode ter uma consequência inesperada: talvez o Wild Dog saia da série. De todos os vigilantes da série ele é aquele com menos ligações com outros personagens principais e cuja contraparte dos quadrinhos possui menos importância, então seria uma saída lógica caso os roteiristas quisessem se livrar de alguém. E, honestamente, levando em conta a forma como o personagem está sendo escrito desde que traiu o Oliver, essa pode até ser uma boa ideia.

Falando em Oliver e em traição, temos os outros destaques do episódio: o personagem principal e seu ex-amigo russo. É impossível contar o número de vezes em que vilões falaram que o Oliver é burro ou disseram que ele “era ainda mais burro do que eu pensava”. Essa frase na primeira vez em que é usada mostraria que o Oliver foi superado intelectualmente pelo inimigo e está em uma situação ruim, mas na centésima vez só mostra que ele provavelmente é burro mesmo. Mas independente disso ele se destacou positivamente devido às suas interações com Anatoly. O ex-Bratva teve um arco de redenção mais convincente neste episódio do que a Laurel na temporada toda.

Ainda falando do Arqueiro, a cena de luta contra Diaz foi uma surpresa positiva. Apesar de cair no mesmo problema de sempre (a luta deveria ser fácil para o Oliver, mas ele apanha bastante pelo efeito dramático), foi um confronto bem intenso. São os raros os momentos em Arrow em que vemos uma luta de chão, e por mais que a coreografia seja menos interessante de acompanhar, ela pelo menos aumenta a intensidade e a credibilidade da cena.

Shifting Allegiances mostra que o roteiro está andando e que a ideia é superar os problemas, mas ao mesmo tempo apresenta questões bem sérias em seu desenvolvimento. O episódio foi muito bom, com cenas intensas e pouca enrolação, mas não convenceu tanto quanto os últimos.