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Crítica | Dunkirk

Ao longo da vida todo mundo vai assistir vários filmes, sendo que alguns ficam na memória como favoritos. Se você for um cinéfilo, você vai ver milhares de filmes e muitos vão ficar guardados na lembrança como pérolas da sétima arte, seja uma produção hollywoodiana da década de 1970 ou um grande clássico alemão de 1920, ou ainda aquele filme iraniano dos anos 1990. Se entrarmos na questão do cinema de gênero e falarmos de filmes de guerra, a lista continua gigante, tanto de obras-primas como de fiascos. Dunkirk, novo filme de Christopher Nolan (Interestelar, A Origem, Batman – O Cavaleiro das Trevas) é uma daquelas obras que sobressai à sua temática, não sendo apenas um “ótimo filme de guerra”, mas sim uma experiência cinematográfica excelente, que nasce com potencial de ser um marco neste início de século e colocar Nolan, novamente, entre os diretores de maior sucesso dos últimos anos.

Dunkirk se passa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e se baseia na Operação Dínamo, uma ação militar realizada pela Grã-Bretanha para resgatar quase 400 mil soldados no porto de Dunkirk que estavam encurralados pelo exército nazista no período da Blitzkrieg, a guerra-relâmpago alemã que invadiu e conquistou países como a Holanda e a França no começo do conflito. Neste cenário desfavorável, Nolan constrói sua história dividindo o mesmo evento em três partes, a Terra, o Mar e o Céu. Apesar de cada parte ter seu protagonista, é a operação como um todo que se destaca. Enquanto na praia acompanhamos a tentativa dos soldados de escapar do porto sitiado, nos céus temos pilotos tentando dar cobertura para segurar a força aérea alemã e, no mar, civis arriscam a vida para resgatar soldados feridos e encurralados.

Dunkirk transborda excelência audiovisual. Nolan orquestra cenas fantásticas no céu, na praia e no mar. Filmado em IMAX 70mm, o filme explora muito bem esse formato apresentando imagens espetaculares sobre uma guerra em que a trilha sonora é o silêncio e o som de disparos e bombas. Atento às críticas sobre o excesso de diálogos expositivos em seus últimos longas, Nolan escreve um roteiro com poucas palavras ditas, deixando que as imagens valham por si só, o Mise en Scène apresentado pelo diretor traz o espectador para a história com um trabalho que une fotografia, edição e mixagem de som de forma impecável. O roteiro acerta em não transformar seus personagens em heróis, são pessoas em situações extremas, perdendo a razão ou mantendo a razão em momentos nos quais não se pode pensar muito, apenas agir. Nolan conta com um elenco de nomes como Mark Rylance (Ponte dos Espiões), que interpreta o civil Mr. Dawson, Tom Hardy (O Regresso) no papel do piloto britânico Farrier e Aneurin Barnard, o soldado Gibson.

Christopher Nolan é um dos poucos diretores que ainda traz expectativas sobre suas produções. Num mundo recheado de franquias de super-heróis, um “novo filme do Nolan” consegue se destacar o suficiente para estrear em primeiro lugar nas bilheterias em pleno verão norte-americano, época mais concorrida do calendário de estreias nos Estados Unidos. Com Dunkirk, Nolan eleva seu patamar enquanto cineasta e inaugura a corrida pelo Oscar da melhor forma possível.

Em tempos de tensão internacional, um blockbuster que renova o gênero de guerra se torna ainda mais importante. Sendo um filme para ser visto e revisto em IMAX, Dunkirk lembra como a guerra muda o homem, como sufoca a todos em uma atmosfera de agonia sem fim. Christopher Nolan parece compreender tudo isso e usa de todos os recursos possíveis para criar uma produção cinematográfica marcante, que entra fácil na lista dos melhores filmes do ano, sendo, em minha opinião, o melhor até agora entre as superproduções.