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Crítica | Terra Selvagem

Jeremy Renner retorna aos cinemas como personagem central, deixando de lado a figura do Gavião Arqueiro já nos primeiros momentos e dando lugar a um homem sombrio e enigmático, que sofre constantemente com um trauma do passado. Vivendo em um local tomado pelo frio, Cory Lambert mantém sua rotina pacata e sem muitas emoções – caso você considere caçar leões algo sem emoção –, até que o cadáver de uma pessoa conhecida surge em sua busca diária no gelo.

A morte de Natalie transforma a vida de todos na reserva indígena, principalmente a dos pais da jovem. Lambert, por outro lado, é obrigado a vivenciar a terrível sensação de Déjà vu, trazendo à tona lembranças ruins e conturbadas. A narrativa começa a tomar forma e deixa claro seu objetivo principal, assim como demonstra ao público o tipo de produção que virá pela frente. O drama familiar que preencheu os minutos iniciais é deixado brevemente em segundo plano, dando espaço a um tenso e instigante suspense policial.

A agente do FBI Jane Banner, vivida por Elizabeth Olsen, é escalada para investigar o homicídio, enfrentando uma brusca mudança de cenário, uma vez que teve de sair de Las Vegas direto para um dos pontos mais frios dos Estados Unidos. Sofrendo o preconceito dos nativos por ser da cidade, ela precisa provar a eles – e a si própria – que estão errados e que consegue dar conta de todo o frio, precariedades que se enfrenta quando se está em um lugar remoto, além da brutalidade do crime.

O desenvolvimento da história está centralizado na vida de cada personagem, principalmente conforme suas histórias pessoais vão sendo reveladas. Em meio a tantas políticas segregacionistas no país, nos deparamos com uma produção necessária e preocupante, que veio para abrir os olhos de seu espectador em relação ao descaso para com os indígenas. A mensagem que estampa o final do filme é chocante, nos mostrando até que ponto vai o respeito entre os seres humanos. Durante o ano, milhares de aldeias americanas são dizimadas e sua população exterminada, e nada aparece na mídia.

O único ponto negativo em relação ao filme de Taylor Sheridan é a sua duração. O roteiro é bem trabalhado, mas entrega a solução do crime de maneira muito rápida, mal dando espaço para o espectador tentar solucionar o caso por si próprio. Em poucas sequências temos o crime solucionado e os responsáveis capturados. O diretor poderia ter alongado mais um pouco a narrativa, criando a sensação de expectativa e curiosidade em quem estivesse assistindo. Além disso, o personagem de Jon Bernthal é dispensável, pois ter um rosto conhecido naquele momento não era necessário. O ator não encontra tempo para exercer tudo aquilo que sabemos que é capaz, mas nos poucos minutos em que aparece na tela faz o que lhe foi pedido.

Para concluir, não há dúvidas de que Terra Selvagem é um ótimo filme, com um elenco excelente e que poderia ter durado um pouco mais. Caracterizando um cenário esquecido e ignorado por muitos, o longa abre nossos olhos para o descaso sofrido por populações indígenas em todos os lugares do mundo. Além de mostrar ao público um pouco de respeito ao próximo, a produção possui uma bela fotografia e um enredo de suspense cativante – mesmo que acabe rapidamente. Taylor Sheridan confirmou seu talento como roteirista e cineasta da maneira mais clara possível, nos entregando algo de tirar o fôlego e cheio de surpresas.