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Las chicas del cable | Uma boa ideia, mas com execução ruim

Em 1928, as mulheres eram vistas como objetos que serviam para serem exibidos nas festas, objetos incapazes de expressão, opinião ou tomar decisões. É verdade que a vida não era fácil para ninguém, mas ainda menos para as mulheres. Se você fosse mulher em 1928, a liberdade lhe pareceria uma meta inatingível. Para a sociedade, éramos apenas esposas e mães. Não tínhamos o direito de ter sonhos e nem ambições. Em busca de um futuro, muitas mulheres tiverem de viajar para longe e outras tiveram que enfrentar as regras de uma sociedade machista e retrógrada. No final, todas nós, ricas ou pobres, queríamos o mesmo: ser livres“.

Às vezes a Netflix erra. Por mais que a gente elogie e enalteça a maioria das produções do serviço de streaming, nem tudo serão mil maravilhas ou nenhum mar de rosas. Las chicas del cable é a primeira produção original espanhola da Netflix e tinha tudo para acertar e cativar, em especial, o público feminino, mas peca feio no desenvolvimento e execução de sua proposta.

A trama de Las chicas del cable se passa em 1929 e cruza a história de quatro mulheres, com diferentes histórias de vida, quando elas começam a trabalhar como telefonistas na CTNE (Compañía Telefónica Nacional de España), empresa que ficava em Madri e iria transformar o mundo das telecomunicações. A protagonista e narradora da série é Alba (Blanca Suárez), uma mulher decidida, com um passado obscuro e à frente de seu tempo, mas que após se envolver em um crime que não cometeu, é chantageada por um policial corrupto a conseguir o emprego e roubar o cofre da companhia, a fim de se ver livre das acusações.

As demais personagens femininas são claros estereótipos do período onde se situa a narrativa. Marga (Nadia de Santiago) é uma jovem do interior, tímida e insegura que chega à cidade grande para buscar uma vida melhor e acaba se deparando com um mundo muito diferente do seu. Carlota (Ana Fernández) é filha de um militar extremamente controlador e que vê no emprego de telefonista uma forma de ser livre. Já Ángeles (Maggie Civantos) é uma profissional muito dedicada, mas que tem que tomar uma importante decisão: escolher entre a carreira ou família, já que seu marido quer que ela deixe de trabalhar para cuidar apenas da casa.

Las chicas del cable toca em temas bem importantes e atuais, como a luta da mulher para buscar seu espaço na sociedade, levanta a discussão sobre o empoderamento feminino perante a sociedade machista e patriarcal que, muitas vezes, desvaloriza e invisibiliza as suas realizações em relação aos homens.

Entre os maiores problemas da série estão a ambientação, onde até existe um esforço para estabelecer uma reprodução fidedigna da época, mas que falha e soa extremamente artificial e não realista. Além disso, o modo de interpretação de todas as protagonistas parece sempre estar um tom acima e fica muito difícil simpatizar ou torcer por alguma delas, principalmente na trama de Alba, que deveria ser a força motriz da história, mas começa sem pé, nem cabeça e assim permanece ao longo dos episódios.

No fim, Las chicas del cable é um belo exemplo de uma ideia muito boa que tinha tudo para ser excelente, poderia ser forte e ousada, como a narração de Alba que abre este texto, mas que por conta das escolhas erradas em sua execução, falha feio na história que se propõe a compartilhar com o expectador.