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Crítica | Uma Família de Dois

Alguns remakes são simplesmente uma perda tempo, ou por serem mal produzidos ou por não acrescentarem nada de pertinente à história original. Outros, no entanto, conseguem, de certa forma, superar seu predecessor. E é exatamente essa a situação de Uma Família de Dois, remake do filme mexicano Não Aceitamos Devoluções, de 2013.

Omar Sy interpreta Samuel, um bon vivant que vive em Marselha sem nenhuma preocupação na vida. Um belo dia descobre ter uma filha chamada Gloria. Como se já não bastasse essa surpresa, a mãe da menina decide deixar o bebê com ele e desaparece. E é aí que a história começa. Primeiramente Samuel tenta fazer o óbvio: devolver a criança. Quando percebe que isso não é mais possível, já está em Londres – onde achava que pudesse encontrar a mãe de sua filha – com um bebê nos braços e sem nenhum dinheiro.

A vida de Samuel estava de cabeça para baixo, mas aos poucos ele conseguiu organizá-la e cuidar daquele bebê não era mais uma obrigação, na verdade, não simplesmente um bebê, era sua filha e ele a amava muito. Samuel deu à Gloria uma vida dos sonhos. A única coisa que ele não podia resolver era a saudade que a menina sentia por sua mãe – a quem Samuel manteve viva através de e-mails falsos que ele mesmo enviava. A situação começa a ficar mais complicada quando, oito anos depois, a mãe retorna e decide tomar para si a guarda da filha.

Se formos comparar este filme com o seu antecessor, encontraremos muitos elementos iguais. A forma como a menina é abandonada, a profissão que o pai consegue para sustentá-la, a casa incrível que ele constrói e sua decoração. Tudo igual. O elemento que diferencia esses dois filmes, que o roteirista e diretor Hugo Gélin foi inteligente em desenvolver e Omar Sy genial ao interpretar, foi o toque de drama. Não Aceitamos Devoluções está muito mais próximo do gênero comédia, enquanto Uma Família de Dois, apesar de alguns alívios cômicos, como o amigo gay de Samuel e as confusões linguísticas, mantém um caráter mais sereno.

O filme cumpre seu papel em não apenas nos divertir, mas também nos emocionar. Há dois momentos que surpreendem pelas reviravoltas que, com certeza, provocarão algumas (muitas lágrimas). Por mais que seja uma história conhecida, foi trabalhada de uma maneira que não se torna enfadonha, que nos deixa com vontade de continuar assistindo e que nos faz refletir sobre responsabilidades e como, muitas vezes na vida, certas escolhas não dependem apenas de nós. Dito isso, é certo que sua ida ao cinema para contemplar esta história valerá muito a pena.