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Crítica | Polícia Federal – A Lei é Para Todos

Para muitos pode parecer desinteressante assistir a um filme que retrata a hedionda história da maior lavagem de dinheiro já vista no país, assim como seria desnecessário pagar para conferir uma narrativa presente nos noticiários quase todos os dias. Em dado momento, pode até mesmo parecer pretensioso o diretor do longa querer recontar tamanha história de corrupção política, todavia, Marcelo Antunez demonstra audácia ao atingir o público de forma objetiva, construindo com praticidade o prelúdio dos bastidores desta operação que ficará perpetuada por um longo período.

A trama, baseada no homônimo livro de Carlos Graieb e Ana Maria Santos, revela um lado até então não visto pelo público, explicando os acontecimentos da Operação Lava Jato através de uma outra perspectiva. Sintetizando os significativos fatos que despontaram neste escândalo político, esse prelúdio tem como objetivo destacar os desafios enfrentados pelos principais agentes envolvidos, retratando os obstáculos de cada ponto que foi difundido. O filme, que vai até meados de 2016, encerra o primeiro capítulo do que será uma trilogia, mostrando o escandaloso impacto que a inclusão do antigo Presidente Lula causou na população durante o interrogatório que foi sucedido. Embora seja baseado em fatos reais, não espere assistir a um documentário, pois o título faz uma dramatização especulativa de argumentos já difundidos.

Habituado a dirigir comédias como Até que a Sorte nos Separe 3, Marcelo Antunez mostra certo progresso profissional ao assumir pela primeira vez o comando de um thriller investigativo. Com um orçamento de R$ 15 milhões, o diretor inova e produz de forma arrojada um gênero até então pouco explorado dentro do Brasil, abordando de forma construtiva o uso de reviravoltas que propiciam uma tensão nos eventos que estão anunciados ali. Quem acompanha o decorrer da trama, vivencia os episódios de uma história recente e ainda não esquecida, fato que instiga o público a refletir durante as 1h50 de filme.

Contudo, fica impossível não notar algumas referências americanas dentro da obra que relembre a trajetória do renomado longa Spotlight – Segredos Revelados (2015), entre outros títulos. Ao assistir, não espere nada muito ousado. As cenas de perseguição são de qualidade, porém não empolgam por mostrar algo que já foi visto. Apesar do clima de tensão gerado, Antunez foi capaz de dosar na medida certa o humor, tornando a experiência mais descontraída. A todo momento fica claro que o diretor ficou isento de qualquer opinião pessoal política, evidenciando certa preocupação em não glamourizar uma ocorrência que ficará maculada em um duradouro ciclo.

Com uma lista de nomes expressivos, outro fator que deve ser abordado é o elenco do filme, instituído para construir de forma efetiva o desenrolar da narrativa. No entanto, é notável que alguns atores se entregaram muito mais que outros, ofuscando a atuação de colegas que vendem personagens genéricos, mas convincentes.

Cumprindo com o proposto de forma construtiva, Antonio Calloni mostra todo seu prestígio ao aparecer na pele de Ivan, delegado federal líder da operação e encarregado de orientar o público ao narrar as realizações mais significativas. Já Flávia Alessandra atua como uma meiga delegada, que funciona como um elo emocional para amigos, transferindo segurança e equilíbrio. Contudo, a atriz exala uma imagem rasa e exprimida, tornando primária a delegada estampada. No entanto, o ator Bruce Gomlevsky mostra ser um grande trunfo em cena ao caracterizar de forma expressiva o policial Julio César, um agente conhecido por ter “sangue nos olhos”, capaz de trabalhar ao máximo para trazer justiça àqueles que acreditam estar acima de qualquer outra autoridade efetiva.

Como é de se esperar, o casting também implementa a encenação de alguns políticos, como é o caso do debochado Alberto Youssef (Roberto Birindelli), do ex-presidente Lula, desempenhado com um aspecto notável pelo aclamado Ary Fontoura, que o representa de forma arrogante e sucinta, e do silencioso, mas preciso, Juiz Sergio Moro (Marcelo Serrado), entre muitos outros desencadeados de forma participativa.

Propiciando uma história de fácil entendimento, Polícia Federal – A Lei é Para Todos cumpre o que promete, ostentando um resumo intrigante de algo que já foi visto anexo ao meio jornalístico. Apesar de mostrar alguns diálogos desnecessários, o filme torna válida essa experiência investigativa, analisando questões pertinentes que ainda não foram respondidas ao fazer um retrato da atual grave situação política do Brasil.

Confira como foi a coletiva de imprensa do filme