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American Horror Story: Cult | 7×05 – Holes

O impacto foi sentido daqui. Sim meus caros, depois de semanas se arrastando numa trama que não caminhava para absolutamente nada que indicasse algo original, Cult entregou dois dos melhores episódios da história de American Horror Story. Deixando tudo menos anuviado, o roteiro aparou algumas das arestas mais problemáticas deste sétimo ano ao dar espaço para os seus monstros, tirando assim o foco excessivo dado à personagem de Sarah Paulson. Logo, a promessa que a estreia tinha feito ao redor do curioso Kai de Evan Peters foi cumprida com um conjunto de sequências que entra fácil para a lista de momentos mais violentos e desconcertantes do show.

Se em 11/09 os roteiristas brincaram com uma inversão de datas ao insinuar que o novo “Onze de Setembro” – 09/11, em notação norte-americana – agora é representado pelo nove de novembro – o dia da eleição –, Holes já chega para reafirmar tudo isso. Os títulos provocativos foram genuinamente espertos e possibilitaram que a temporada desamarrasse alguns dos nós ao retratar de forma cínica como cada um dos personagens se comportou no fatídico dia da eleição. Nessa virada, não só Ally ganhou novos contornos, como também Meadow, Harrison e a própria Ivy. No entanto, os roteiristas aproveitaram o momento que simbolizou o pico de autoconfiança de cada um dos protagonistas para desenhar Kai como um verdadeiro agente do caos.

É aí que entram o casal Wilton e Beverly, a repórter vivida pela excelente Adina Porter que roubou a cena em Roanoke. Enxergando a fraqueza de cada um desses perdedores como um reflexo do início da Era Trump, Kai passa a alimentar o ódio que Beverly e Harrison nutrem pela sociedade atual ao assumir a postura messiânica que todos os líderes de culto encarnam em determinado momento. O paralelo mais óbvio é com a figura de Charles Manson e seu Helter Skelter, mas, por obviedade, American Horror Story nunca pecou. Troquem os assassinatos que anunciavam o apocalipse racial de Manson por palhaços aterrorizando os já paranoicos americanos que a seita iniciada por Kai passa a representar o nosso mundo de forma quase documental.

Quem tem a chance de brilhar é o próprio Evan Peters, já que Kai exige do ator uma psicopatia que só tínhamos visto da forma meio boba lá em Hotel. A gente sempre elogia o elenco feminino da série, porém Peters, ao longo de sete anos, conseguiu dar vida para um multifacetado conjunto de personagens que iam do deboche ao mais puro drama em questão de minutos. As cenas em que ele manipula Harrison – Billy Eichner continua excelente no papel – são de uma sensualidade incômoda que me lembra em primeira instância o Hannibal de Anthony Hopkins. Para coroar o episódio, ainda temos uma homenagem a Jogos Mortais e a participação especial de Emma Roberts em sequências tão violentas quanto assustadoras. Foi Cult voltando aos trilhos no melhor dos estilos.

Apostando no gore extremo e numa dinâmica ainda mais irônica, os roteiristas conseguiram fazer o que American Horror Story não fazia comigo há anos: virar o rosto durante uma cena. O que me impressionou é que em nenhum momento as sequências que provocaram essa reação soaram fantasiosas. Elas foram reais, dolorosas e protagonizadas por humanos alimentados pelo ódio e pelo desejo de pertencer em um mundo perdido. Sendo sincero, não me surpreendi com a revelação de quem eram os palhaços, pois as evidências já tinham sido deixadas sem a decisão idiota de fazer suspense. O que surpreende é o fato de que nem todo mundo ali está confortável com o que Kai vem fazendo.

Por isso mesmo Ivy e Meadow vão ganhando camadas que eu nem esperava que fossem existir. Ryan Murphy sempre possuiu um tino especial para desconstruir nossas expectativas. Fazer com que os vilões tenham dúvidas os aproxima ainda mais da realidade, afinal todos ali são pessoas encarnando anseios reais. Para completar, depois de litros de sangue e buracos na pele capazes de engatilhar até mesmo quem não é tripofóbico, o episódio ainda guarda um twist que me pegou de surpresa nos minutos finais. Não cogitei o parentesco entre o doutor Rudy, Kai e Winter, mas tudo passa a se encaixar numa trama tão redondinha que nem mesmo as conveniências dessa revelação me incomodaram.

Cult conseguiu emplacar de um jeito tão rápido que eu já consegui apagar os erros do início da temporada. Ser fã de American Horror Story é saber que no miolo da antologia sempre existe uma salvação para os anos perdidos. Consigo, inclusive, apontar as maiores qualidades narrativas de Coven e Hotel. Fico feliz que este sétimo ano esteja prestes a se realocar como algo relevante dentro da mitologia do show. A série andava precisando desse sacode.

P.S.1: A macabra relação de Kai com a morte dos pais pode parecer cliché, mas é uma clara homenagem a Norman Bates e Ed Gein.

P.S.2: Beverly descobre o ponto fraco do líder do culto, se tornando instantaneamente na pessoa mais perigosa da série. Será que teremos Adina Porter destruindo tudo no desfecho de Cult?

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