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Crítica | A Noiva

Há muitos anos, acreditava-se que a fotografia tinha o poder de captar a alma das pessoas mesmo após a morte. Tal lenda rendeu uma bizarra tradição de fotografar pessoas falecidas como tentativa de mantê-las com seus entes queridos de alguma forma. O ritual não era muito simples, afinal, estamos falando de modelos que não se mexem, o que demandava um aparato que deixasse o corpo do indivíduo ereto para a foto. E para realmente captar a alma da pessoa, esta precisaria estar vestida com objetos que tenham sido importantes para ela ainda em vida, como anéis de família, vestidos de noiva, etc.

Apesar disso tudo, para Barin, somente a tradição não era suficiente para trazer sua amada de volta. Ele, que trabalhava como fotógrafo na Rússia do século XIX, decide então fazer um experimento. A ideia era pegar uma moça pura e enterrá-la viva com o corpo de sua esposa juntamente ao negativo da foto e esperar para a troca. Mas é óbvio que brincar de Deus tem seus riscos. E esse caso não foi diferente.

Um salto temporal nos traz de volta aos dias de hoje. Nastya, uma jovem estudante, está prestes a fazer uma viagem para conhecer a família de seu futuro marido, Ivan, pela primeira vez. O que ela não espera é que a peculiar família de seu noivo esconde um segredo há anos envolvendo essa tradição e que este passeio poderá, inclusive, colocar sua própria vida em risco.

Indo para uma breve análise, precisamos ser honestos: A Noiva não surpreende. O filme russo é uma clara tentativa frustrada de ser um blockbuster americano. Se o espectador for um aficionado pelo gênero de terror, certamente vai prever o desenvolvimento da história e seus elementos surpresa. Basicamente, o longa carrega uma boa premissa condenada por um mal desenvolvimento. O roteiro é previsível e a dublagem em inglês deixa muito a desejar.

O interessante de nossas janelas de exibição abraçarem obras vindas fora do eixo hollywoodiano é o espectador ter a oportunidade de experimentar o cinema através de novas linguagens, o que justifica muitas pessoas preferirem filmes legendados a dublados. Além de, claro, auxiliar numa melhor captação das emoções dos atores. A opção de colocar um filme russo dublado em inglês foi um tiro no pé. Toda a ideia de imersão na história se prejudicou por conta disso, fora os erros técnicos, como a falta de sincronismo da boca dos atores com as falas e ruídos ao fundo de alguns diálogos (que, cá pra nós, poderia ter sido corrigido na pós-produção). E por mais que conte com bons atores em sua ficha técnica, a versão em inglês impede uma avaliação mais profunda do desempenho destes.

A trilha sonora, essencial em filmes do gênero, também é um recurso falho no longa. Ela não desenha nenhum suspense, o que atrapalha durante cenas cruciais, como os típicos jump scares. Os efeitos especiais são um exemplo do esforço vindo da influência do cinema americano, mas ainda sem sucesso – como todos os outros elementos da projeção. Mas deve-se dar um breve destaque às cenas em que Nastya tem alucinações com diversas versões dela mesma. O efeito ficou interessante mas, de um modo geral, pareceu mais um detalhe solto na trama, sem nenhuma conclusão para tal.

E abordando a conclusão do filme, A Noiva entrega, como um último respiro de uma produção falha, uma exaustiva resolução, desenhando, ainda, para uma possível sequência no futuro. É preciso muito fôlego e força de vontade para insistir no resgate de algo positivo deste protótipo, já que de maneira geral a projeção se perde nos clichês e se distancia de seu objetivo de fazer o público se assustar, chegando a ser tão aterrorizante quanto jogar o Labirinto do Exorcista em 2017.